segunda-feira, 27 de março de 2017

GRACILIANO NO CINEMA.

A partir de hoje e até a próxima quarta-feira, o Centro Cultural Arte Pajuçara irá exibir, sempre às 20 horas, os três filmes baseados em obras literárias do grande escritor alagoano Graciliano Ramos, simplesmente um dos maiores nomes da língua portuguesa. A amostra, que faz parte dos vários eventos que o Governo do Estado está promovendo para comemorar os 200 anos de Alagoas, é uma oportunidade única de assistir na telona e no escurinho do cinema, três clássicos do nosso cinema nacional, todos figurando na lista dos 100 melhores filmes nacionais de todos os tempos. E o melhor: gratuitamente. Como baixei os três filmes algum tempo atrás, a fim de trabalhar em sala nas aulas de sociologia (as temáticas sociais das obras do Velho Graça continuam atualíssima), os comentarei antecipadamente aqui na ordem em que serão exibidos na amostra.  E não é postagem paga não, viu? Não tenho este prestígio todo, por isso mesmo, não fui procurado por ninguém da organização. Simplesmente, incentivo você alagoano ou turista que esteja nos visitando a não perder essa oportunidade raríssima de conferir três clássicos do nosso cinema. Imperdível!

 = Excepcional. /  = Muito bom. /  = Bom./  = Regular. / = Fraco. / Coco do Cachorrão= Preciso mesmo dizer?.

Memórias do Cárcere.
Produção brasileira de 1984.


Direção: Nelson Pereira dos Santos.

Elenco: Carlos Vereza, Glória Pires, Jofre Soares, José Dumont, Nildo Parente, Wilson Grey, Tonico Pereira, Jorge Cherques, Jackson de Souza, Waldyr Onofre, David Pinheiro, Fábio Barreto, André Villon, Paulo Porto, Monique Lafond, Nelson Dantas, Fábio Sabag, Silvio de Abreu, Cássia Kiss, André Di Biasi, Marcos Palmeira, entre outros.

Blogueiro assistiu no notebook em 26 de março de 2017.

Cotação

Nota: 8,5

Sinopse: Baseado na autobiografia homônima de Graciliano Ramos. Em novembro de 1935, alguns militares chutam o pau da barra e provocam uma rebelião contra o Governo Vargas, que foi facilmente controlada pelos militares. O resultado foi simplesmente uma caça às bruxas, com medidas constitucionais que suspendiam as garantias de liberdade de todo brasileiro. Uma das vítimas, foi o grande escritor Graciliano Ramos (Vereza), que mesmo com toda fama por seus livros e trabalhando no Governo do Estado de Alagoas, foi preso em março de 1936, passando no xilindró, em situações desumanas, durante dez longos meses. Isso sem nenhuma acusação.

Comentários: A amostra começa com o filme mais novo dos três, que figura em 29º na lista da ABRACCINE dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos. Adaptado e dirigido pelo mestre Nelson Pereira dos Santos, que conduz com maestria um filmaço que conta com uma excelente reconstituição de época, um grande elenco (inclusive tendo o luxo de ter futuros grandes atores como figurantes em comecinho de carreira), e o mais importante, um ótimo roteiro, que ganha força com as excelentes atuações, em especial com a de Carlos Vereza, quase mediúnica, como o Velho Graça sereno num momento da grande injustiça que sofreu em vida. Um drama envolvente, cativante, que mesmo sem nenhum momento de ação, consegue prender a nossa atenção de tal maneira que não percebemos sua longa duração (três horas e alguns minutinhos).


Vidas Secas.
Produção brasileira de 1963.

Direção: Nelson Pereira dos Santos.

Elenco: Átilo Iório, Maria Ribeiro, Baleia, Gilvan Lima, Genivaldo Lima, Orlando Macedo, Jofre Soares, Arnaldo Chagas, Oscar de Souza, entre outros.

Blogueiro assistiu no notebook em 27 de março de 2017.

Cotação

Nota: 9,5

Sinopse: Baseado na obra literária homônima de Graciliano Ramos. A trama se passa no comecinho dos anos 1940 e acompanha a saga de uma família de pobres retirantes, formada por Fabiano (Iório), sua esposa, Sinhá Vitória (Ribeiro), seus filhos (Gilvan e Genivaldo Lima) e a cachorra Baleia (idem), que atravessa o árido sertão em busca de sobrevivência. Com se não bastasse a dureza por conta da força da natureza, a família ainda tem que encarar a exploração da mão-de-obra por um coronel (Soares), proprietário das terras onde eles se instalam e até abuso de autoridade por parte da polícia.

Comentários: A amostra prossegue o filme mais antigo baseada numa obra do Velho Graça, que simplesmente figura como terceiro melhor filme nacional de todos os tempos na lista da ABRACCINE, e que na época foi indicado a palma de ouro no Festival de Cannes. O mestre Nelson Pereira dos Santos debuta no universo de Graciliano, com um filmaço cativante e envolvente, que nos traz de forma crua e ao mesmo tempo poética da realidade nua e crua do pobre sertanejo, algo que o Velho Graça trabalhou com riquezas de detalhes em sua célebre obra. E eles estão aqui, graças ao excelente roteiro fidelíssimo a obra em que se baseia, que ganha forças com as atuações de um elenco inspiradíssimo, e a direção precisa do mestre Nelson Pereira dos Santos. Disparado, não somente a melhor adaptação para as telonas de uma obra do escritor alagoano, como também uma das melhores e mais fiéis adaptações de uma obra literária para as telonas. Sensível, tocante, emocionante e até com uma pitadinha de humor no momento certo, uma obra-prima do nosso cinema e da sétima arte, para ser vista e revista, sem deixar de impactar e nos provocar emoções.


São Bernardo.
Produção brasileira de 1971.

Direção: Leon Hirszman.

Elenco: Othon Bastos, Isabel Ribeiro, Nildo Parente, Vanda Lacerda, Mário Lago, Josef Guerreiro, Jofre Soares, Rodolfo Arena, José Labanca, José Policena, Andrey Salvador, entre outros.

Blogueiro assistiu no notebook em 27 de março de 2017.

Cotação

Nota: 9,5.

Sinopse: Baseado na obra literária homônima de Graciliano Ramos. A trama gira em torno de Paulo Honório (Bastos), homem rude, ambicioso, egoísta, que mesmo com quase nenhuma formação educacional, tornou-se de mascate a um próspero coronel-fazendeiro da sua cidade natal, Viçosa, em Alagoas. Mal acostumado a ter tudo que deseja, desde da fazenda São Bernardo até Madalena (Ribeiro), professora intelectualizada, moça prendada. Os dois se casam, mas, a louca obsessão doentia de Paulo pela amada, tragicamente controladora e sufocante, acaba destruindo aos poucos toda relação.

Comentários: Encerrando com chave de ouro a amostra, com o filme que fez bonito e ganhou prêmios em festivais mundo a fora, e que figura como o vigésimo melhor filme nacional de todos os tempos segundo ABRACCINE. Dirigido pelo mestre Leon Hirszman, um dos grandes nome do movimento Cinema Novo, rodado totalmente na cidade alagoana de Viçosa, onde o mestre Graça passou parte de sua vida e a trama desta obra se passa, o filme tem um excelente roteiro, fidelíssimo a obra literária em que se baseia, com diálogos bem elaborados, que ganha forças com atuações memoráveis, principalmente de Othon Bastos, que parece ter saído das páginas do livro e personificado nas telonas, passando até com o olhar toda carga dramática do duríssimo e complexo personagem , assim como a  atuação da saudosa Isabel Ribeiro, que também só com o olhar demonstra todo sofrimento e infelicidade de Madalena. Outra obra-prima do nosso cinema que também é uma das melhores e mais fiéis adaptações de uma obra literária para o cinema.


Rick Pinheiro.
Cinéfilo alagoano.

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