sábado, 26 de novembro de 2011

RECORDAR É REVER: KARATÊ KID.

Filmes.
Recordar é rever: Karatê Kid.

O que dizer de um filme com coreografia de luta beirando à brincadeira de criança e uma trama com muita falação didática e quase nenhuma ação? Com certeza muitos adjetivos negativos viriam a nossa cabeça e ninguém definiria como um clássico inesquecível, uma obra-prima dos anos 80. O fato é que Karatê Kid - A Hora da Verdade é muito mais que um clássico inesquecível. É um filmaço envolvente e emocionante que influenciou toda uma geração que lotou as academias para aprender a luta marcial que é muito mais que o bobo golpe da garça da cena final,  ganhou três desnecessárias continuações e um dos melhores remake já produzidos, e até hoje é bastante imitado. Poderia passar o fim de semana todo só falando da importância e influência deste clássico dirigido pelo imprevisível John G. Avildsen e estrelado pela dupla Ralph Macchio e o saudoso Noriyuki Pat Morita, na cultura pop, mas irei me conter e comentar apenas pelo ponto de vista de um cinéfilo.

A trama deste clássico de 1984 todo mundo já conhece, mas vale a pena comentar. Daniel Larusso (Ralph Macchio, na época com 24 anos de idade, mas com cara de 14 anos) é um jovem de New Jersey, que ver sua razoável popularidade acabar quando é obrigado a se mudar com a sua mãe para a ensolarada Califórnia. Lá, conhece e se apaixona por Ali (Elizabeth Shue, linda e convicente, minha musa dos tempos de infância e adolescência). Mas, o pró é que a moça tem um rolo com Lawrence (o sumidíssimo William Zabka, que depois deste filme, fez meia-dúzia de filmes praticamente repetindo o mesmo vilão), aluno da academia de karate do loucão John Kreese (o também sumidíssimo Martin Klove, que assumiu o personagem após a recusa de Chuck Norris). Daniel passa a sofrer bullying (décadas antes desta palavra virar moda) dos carinha e seus capachos, até que numa bela noite é salvo de levar a surra da sua vida pelo misterioso zelador do seu prédio, Miyagi (Pat Morita, merecidamente indicado ao Globo de Ouro e ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, mas injustamente não levou nenhum dos dois). A partir daí, começa uma parceria e amizade que marcou para sempre a história do cinema.

Esta obra prima moderna tem um roteiro muito bem escrito, apesar de ser um pouco cansativo e arrastado, principalmente na falação do treinamento. Mas, tudo superado graças ao bom humor do roteiro (o treinamento de Daniel disfarçado de trabalho escravo é insuperável) e as interpretações brilhantes de todo elenco, destacando a dupla de protagonistas que demonstra uma química perfeita. A inesquecível e empolgante trilha sonora é outro ponto alto do filme e tanto as músicas instrumentais composta e conduzida pelo maestro Bill Conti como também as músicas pop cantadas por ilustres desconhecidos por nós brasileiros, estão em nossa memória até hoje.

Envolvente, cativante empolgante e bastante emocionante Karatê Kid - A Hora da Verdade prende a nossa atenção do começo a fim e mesmo sendo exautivamente exibido na saudosa e verdadeira Sessão da Tarde da Rede Globo, ainda nos diverte e empolga como se fosse a primeira vez que o assistimos. Um filmaço ainda insuperável, mesmo com um remake tão bom quanto o original, que está entre os melhores filmes de todos os tempos. Um clássico oitentista que o tempo não apagou.

Evidente que com o estrondoso sucesso o inevitável aconteceu, e por três vezes. Em 1986, o trio Avildsen, Macchio e Morita retornam em Karatê Kid II - A Hora da Verdade Continua, numa trama tão arrastada quanto o primeiro filme, só que desta vez girando um pouco mais em torno do inesquecível Sr. Miyagi. O filme inicia justamente no final do primeiro filme, com uma excepcional sequência onde alguns minutos após a derrota para Daniel, o treinador psicótico do primeiro filme vai descontar sua raiva no "coitado" do Lawrence, mas acaba se ferrando, tendo uma lição do nanico Miyagi. Alguns dias depois, Miyagi recebe uma carta que seu pai está morrendo e parte para Okinawa, levando consigo seu pupilo e amigo Daniel. Lá, ele reencontra um antigo rival sedento para acertar as contas com o simpático e figuraça mestre. Daniel também não fica atrás e também se envolve numa situação parecida do primeiro filme, ou seja, se apaixona por uma linda garota, que tem um psicótico e possessivo fã.

O segundo filme não é totalmente ruim e chega a ser tão bom quanto o primeiro, perdendo apenas para este e para o remake estrelado por Jaden Smith e Jackie Chan. Tem um roteiro muito bem escrito e amarra bem um filme ao outro, apesar de praticamente repetir a mesma fórmula do primeiro filme. As atuações também estão acima da média e a trilha mantêm o nível do primeiro filme, com destaque para a oscarizada canção Gloria of Love, cantada por Peter Cetera e que até hoje, é tocada exaustivamente nas rádios, principalmente naqueles programas bregas de finais de noite. Em síntese, uma continuação que apesar de ser um pouco inferior ao original,  faz jus ao original.

Tudo ia bem, até que os produtores inventaram de continuar a franquia. Foi quando, em 1989, reuniu de novo o trio central, diretor e protagonistas, para o decepcionante Karatê Kid III - O Desafio Final, que não somente é o pior filme da franquia, mas também uma das piores continuações de  todos os tempos. A trama deste triste filme se passa logo após Miyagi e Daniel voltarem de Okinawa, onde um milionário chatíssimo, canalha (Thomas Ian Griffith, em seu filme de estreia) e, evidentemente, sem tem o que fazer na sua fúrtil vida, além de ordenar despejo de lixo tóxico não sabemos aonde, arquiteta e executa uma vingança contra a dupla, apenas para alegrar a vida do seu amigo John Kreese (Martin Klove, perdidaço), que está falido e mergulhado na deprê após a derrota dupla, dentro e fora do tatame.

Nada funciona nesta porcaria de filme, com um roteiro péssimo e muito triste. Até o herói Daniel, ganha a nossa repulsa e chegamos, inclusive, a torcer para que ele se ferre todinho, por ser tão burro e ter traído seu amigo e mestre Miyagi. E tudo piora quando tenta fugir da fórmula dos filmes anteriores, como colocar a mocinha logo de cara dar o clássico toco "Você é só meu amigo!" em Daniel, impedindo desta vez do cara se envolver amorosamente com alguém, e o mais absurdo, a ideia patética do campeão do torneio anterior só luta uma vez. Em síntese, o pior filme da série e também de todos os tempos, que nem merece perdemos tempo comentando.

Mesmo com um filme tão ruim, os produtores secos por dinheiro, inventaram de não parar a franquia. E em 1994, Karate Kid 4 - A Nova Aventura chega as telonas, numa tentativa fustrada de ressuscitar a franquia. Desta vez, Avildsen é substituído na direção pelo desconhecido Christopher Cain e o Karate Kid Macchio é substituído por uma garota, a talentosa atriz Hillary Swank (A Menina de Ouro do triste mas ótimo filme de Clint Eastwood), em início de carreira.  A trama inicia com Miyagi participando de uma homenagem a heróis da 2ª guerra. Após a homenagem vai jantar na casa da viúva do seu melhor amigo e parceiro de guerra, e percebe que ela tem problemas com a neta adolescente Julie Pierce (Swank). Inexplicavelmente, Miyagi manda a velha ir cuidar da casa dele, na Califórnia e fica em casa tomando conta da moça, que de uma hora para outra, deixa de ser um rebelde sem causa para se tornar a nova aluna de Miyagi.

De um clássico inesquecível como o filme original, a franquia Karate Kid encerra com o filminho medíocre "B", com roteiro repleto de furos, que se salva apenas pela boas atuações de Swank e Pat Morita, ambos visivelmente tirando leite de pedra de um roteiro tão ruim. Não chega a ser um péssimo filme como o seu antecessor, mas também não é nenhuma obra prima como o primeiro ou um ótimo filme como o segundo. Em síntese, um triste fim para uma série que deveria ter parado no segundo filme.

Rick Pinheiro.
Cinéfilo.







  

Nenhum comentário:

Postar um comentário