sexta-feira, 10 de abril de 2020

O EVANGELHO SEGUNDO O TEATRO DE IGREJA.

 = Excepcional. /  = Muito bom. /  = Bom./  = Regular. / = Fraco. / Coco do Cachorrão= Preciso mesmo dizer?.

Jesus, A Esperança.
Produção brasileira de 2017.

Direção: Semi Salomão.

Elenco: Luiz A. Vechiatto, Débora Melo, Mauro Augusto Chianfra, Adinam Barbieri, Val Ferreira, Luciana Vechiatto, Aldo Lovato, Josi Rodrigues, Semi Salomão, entre outros.

Blogueiro assistiu online (YouTube) em 10 de abril de 2020.

Sinopse: Enésima adaptação dos fatos sobre Nosso Senhor Jesus Cristo, narrados nos Evangelhos. O filme acompanha a última semana de Jesus de Nazaré (Vechiatto) antes da sua Paixão, Morte e Ressurreição, com flashbacks de momentos onde Ele realizou seus milagres e ensinamentos.

Comentários: Sou de um tempo, não tão distante assim, onde Sexta-Feira da Paixão era de lei assistir um dos milhares filmes sobre Nosso Senhor Jesus Cristo, seja na TV (inicialmente, o sessentista Rei dos Reis, e posteriormente, o televisivo Jesus de 1999, eram os favoritos da Globo, enquanto o também televisivo Jesus de Nazaré do saudoso mestre Franco Zeffirelli, até pouquíssimo tempo, era presença garantida durante na tarde na Record), seja nos cinemas, inclusive os decadentes que passavam o ano todo exibindo pornôs, mas, na Sexta-Feira Santa abriam às portas para toda família assistirem alguma produção sobre Nosso Senhor (não me pergunte como era a limpeza dessas salas antes dessas sessões, pois, realmente, nunca fui a nenhuma delas, muito menos quero imaginar). Paralelamente com esse costume cinematográfico e televisivo ia acabando aos poucos, comecei a prestigiar as apresentações teatrais amadoras da Paixão de Cristo dos grupos de jovens das Igrejas, católicas e protestantes, e com o tempo, passei a participar destas. Por essa introdução, acredito que você deve imaginar como me sentir nesta madrugada a me deparar por acaso no YouTube com essa pérola que une o cinematográfico com o amadorismo do teatro de Igreja.

Por favor, não me leve a mal, pois, em hipótese nenhuma quero ofender ou malhar os realizadores ou quem gostou dessa claramente boa intencionada produção brasileira, que a princípio eu acreditava ser uma filmagem de alguma dramatização de um grupo de Igreja. Mas, tenho que confessar que em alguns momentos da cerca de uma hora e vinte e poucos minutos de duração da apresentação de teatro amador do filme, tive ataques de risos (e com todo respeito, falando seríssimo, não com ironia de um meme de Facebook). Isso ocorreu devido principalmente as atuações exageradamente canastronas de um elenco que, mais uma vez com todo respeito, ninguém me convence que não seja amador, já que me fizeram lembrar dos vinte anos da minha vida dedicados à evangelização através do teatro de Igreja, muitas vezes, atuando em dramatizações da Paixão (garanto que sou muito mais canastrão que todo elenco e todos os figurantes deste filme, e darei uma pequena prova no final da postagem). E não me julgue pelo meus ataques de risos, pois, desafio você a também não ter um, por exemplo, com o show de exageros e afetação do Judas Iscariotes deste filme.

Mas, não pense você que Jesus, A Esperança é um trashão. Muito pelo contrário, tem um roteiro que, mesmo fazendo vários retalhos para criar a trama, é fidelíssimo aos relatos dos Evangelhos, somado a uma claríssima inspiração em A Paixão de Cristo de Mel Gibson (convenhamos, é impossível encontrar uma produção dramatizada depois desta obra-prima, que não beba de sua fonte de inspiração). O filme conta também com uma produção caprichada, principalmente, nos figurinos (modestamente falando dos meus saudosos tempos de evangelizações teatrais, a galera de Igreja, mesmo com quase nenhuma grana, é muito criativa e capricha mesmo, principalmente, nas encenações da Paixão), que dentro do orçamento claramente pequeno, entrega um trabalho que convence sendo da época de Jesus (exceção apenas os toscos capacetes dos guardas, mas, ignoremos). Pelo menos não vi nenhum figurante olhando ou dando acenando para a câmera, nem com relógio, tênis ou celular, como muitos figurantes distraídos nas apresentações que eu assisti e também nas que eu participei. Na parte técnica, apenas alguns momentos no uso de uma sonoplastia tosca e os cenários são os pontos fracos. No caso destes, tanto pela claríssima séria restrição orçamentária, como pelo tosco uso do chroma key (pior, que nesse caso, nem posso falar. Saberá o porquê no final da postagem).

Outro ponto positivo que profissionaliza o filme é a direção competentíssima de Semi Salomão. Se por um lado não exige nada de atuação do seu elenco amador, em compensação, o conduz muito bem em posicionamento de cena, assim como a parte técnica (com direito até uso de drone na cena da crucificação e morte). E não faz feito, e acaba entregando o mínimo que se exige de um filme sobre Jesus, que é emocionar na sequência da Paixão. De quebra, o cara entrega um bom trailer bem editado, que esconde todas as deficiências da produção e leva o público a acreditar que se trata de uma mega-produção bíblica made in Brasil. Mesmo com todo esse profissionalismo, o cara não deixa de manter a tradição de um bom diretor amador de teatro de Igreja, reservando uma participação especial para si, no caso, fazendo Herodes, personagem que, aliás, junto com Pilatos, são os favoritos para esses diretores fazer suas pontas, incluindo, esse que vos escreve. Curiosamente, o filme ganhou dois prêmios no Festival Internacional de Cinema Cristão, justamente nas categorias de Melhor Figurino e Melhor Direção. Um feito e tanto para um filme que aparentemente é um teatro de igreja levado às telonas.

Enfim, com certeza, sua experiência com o filme não será a mesma que a minha, que como já percebeu foi prazerosamente nostálgica. E acredite, sem afetar a minha avaliação, do contrário, o filme receberia cinco estrelas e um dez bem caprichado por me fazer viajar na minha memória afetiva (Chega deu um aperto no coração na hora de dar a nota, principalmente, por entender perfeitamente a boa intenção de todos os envolvidos). Se você é um cristão e/ou um cinéfilo não muito exigente, vai encarar de boa e até se emocionar com o filme. Uma prova que a simplicidade, somada a muita dedicação, competência,  mesmo nas dificuldades, sobretudo orçamentária e de elenco, de tão bem intencionado, consegue cativar e entregar um bom e respeitoso filme, que até dar uma surra em muitas super produções hollywoodianas bíblicas sobre Nosso Senhor (como o clássico sessentista, A Maior História de Todos os Tempos, que para mim, até hoje, é o pior filme sobre Jesus que eu assisti, junto com o recente Últimos Dias no Deserto). Numa Sexta-Feira da Paixão onde não teremos apresentação teatral amadora em nenhuma igreja, Jesus, A Esperança é um substituto à altura. Fica a dica para juntar a família e assistir no conforto do lar este filme, que está disponível gratuitamente no YouTube. Cotação / Nota: 6,5.

Rick Pinheiro.
Cinéfilo alagoano.

Eu já vi muitos trailers que mascara bem as deficiências, 
mas, esse aqui, está de parabéns.

Filme completo.
Assista em casa como se tivesse na Igreja do seu bairro.

E falando em apresentação teatral amadora de Igreja...
Como prometido, prepare-se para a partir de 04:35 ver 
o pior intérprete de Herodes de todos os tempos.

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