sábado, 5 de maio de 2012

CLÁSSICOS DA AMÉRICA VÍDEO: DESEJO DE MATAR 3 & 4.

Imortalizado pelo saudoso Charles Bronson, o arquiteto Paul Kersey vai de pacato cidadão que após sucessivas tragédias pessoais torna-se um vigiltante a Rambo geriátrico.

Presença frequente nas sessões televisivas de cinemas, principalmente no Domingo Maior da Rede Globo, o saudoso Charles Bronson (1921-2003) atualmente anda sumidíssimo da programação de todas as emissoras televisivas de nosso país. E olhe que o ex-pedreiro que se tornou ator tem uma longa e considerável filmografia que inclui o clássico Era Uma Vez no Oeste. Mas, sem sombra de dúvida, Bronson que tinha uma cara amarrada de dar medo a qualquer um tornou-se popularmente conhecido por atuar em diversos filmes de ação, na década de 70 e 80. Destes, destaque para a série Desejo de Matar, cujo o terceiro e quarto filme foram produzidos pela Cannon e lançados por aqui pela saudosa América Vídeo. Antes de comentar estes clássicos do cinema de ação, vale a pena aproveitar, para tecer alguns comentários sobre todos os filmes desta memorável franquia que mesmo sendo produzida entre os anos 70 e 80, possuem uma temática bastante atual, mesmo com as continuações saindo totalmente do contexto.

Quando em 1974, Desejo de Matar foi lançado nos cinemas do mundo inteiro gerou polêmica e discursões das mais variadas, afinal, o filme dirigido por Michael Winner, tratava do delicado tema da justiça pelas próprias mãos. Paul Kersey (Bronson), é um pacato cidadão, um arquiteto, que pouco está se lixando para o caos da violência urbana que atinge Nova Iorque, até que a pedra entra no seu sapato de forma trágica e dolorosa, com a esposa sendo assassinada e sua filha estuprada barbaramente, por uma gangue de marginais que cismam com elas (Curiosamente, um dos marginais é interpretado por Jeff Goldblum, em comecinho de carreira). Depois deste trágico incidente, Kersey chuta o pau da barraca, compra uma arma e sai matando a bandidagem, tornando-se um vigilante. O filme tem uma ideia até interessante, mas se perde num roteiro fraquíssimo e sem nexo (Kersey mata vários bandidos, exceto os que causaram o mal a sua família). Mesmo assim e com toda polêmica, o filme fez um estrondoso sucesso que inclusive, até hoje, inspira filmes do gênero. Um clássico do gênero, um dos mais polêmicos da história do cinema, como também com um dos finais mais tosco e risível de tão patético. Nota 5,0.



Com tanta polêmica, o filme acabou fazendo mais sucesso do que de fato merecia, e em Hollywood, sucesso de um filme é continuação na certa. Em 1981, Winner e Bronson voltam a saga de Paul Kersey em Desejo de Matar 2. Desta vez, a trama se passa em Los Angeles, onde Kersey toca sua  vida adiante como arquiteto, após dois anos da violência que abalou para sempre sua família, inclusive com sua filha ainda se curando dos traumas numa clínica psiquiátrica. Só que mais uma vez, uma gangue de estúpidos, cisma com a cara de Kersey, invade sua casa, estupra e mata sua empregada, e ainda levam a coitada da sua filha (a mulher devia ter um imã nas partes intímas para atrair tanto tarados psicóticos) e ainda são responsáveis por sua morte acidental. Puto da vida com tudo isso, Bron.., digo, Kersey volta  a vida dupla de arquiteto pelo dia e vigilante à noite, caçando e detornando os bandidos (um deles vividos por Laurence Fishburne, o Morpheus da Trilogia Matrix), um por um. Produzido por Menanhem Golan e Yoran Globus, mas não pela Cannon, o filme tem o roteiro mais bem elaborado de toda franquia, portanto, figurando entre os melhores e com Bronson ainda mais a vontade no personagem. Nota 7,0.



De um vigilante que só queria vingar uma tragédia familiar, Kersey tornou-se um exército de homem só, típico dos anos 80, a partir de 1985 com Desejo de Matar 3, mais uma vez dirigido por Winner, sendo o primeiro produzido pela Cannon e lançado por aqui pela América Vídeo. O roteiro é mera desculpa esfarrapada para Bronson encarnar o herói padrão da época que detona praticamente sozinho um exército de bandidos. A ação volta para Nova Iorque, onde o herói chega para visitar um amigo e o encontra morto por uma gangue que mete o terror no bairro. Desta vez puto da vida por terem ferrado com seu amigo (apesar de Bronson não demonstrar nenhuma tristeza), Kersey parte para cima da bandidagem, tornando-se o salvador da pátria local. No final, armado até os dentes, bem ao estilo do seu colega de produtora, Chuck Norris, Bronson detonar com um exército inteiros de bandidos sub-urbanos. Esqueça qualquer coerência no roteiro já que a mesma não existe, já que o filme tem o propósito de transformar Kersey numa espécie de Braddock urbano e seu interprete Bronson tão duro e imbatível quanto os saradões Stallone e Schwarzenegger, na época os grandes ícones do gênero. Apesar disso, tenho um carinho especial por este filme, pois o assistir na tela do saudoso cinema São Luiz, e até hoje, me divirto e caio na gargalhada pelos absurdos apresentados. Nota 8,0.



Mas, o ápice do exagero de Bronson como um Rambo Geriátrico estava por vim. Em 1987, Kersey volta ainda mais durão e imbatível em Desejo de Matar 4: Operação Crackdown, primeiro filme da franquia não dirigido por Winner, que foi substituído pelo saudos J. Lee Thompson, responsável pelos mega-sucesso da Cannon Os Aventureiros do Fogo com Chuck Norris e As Minas do Rei Salomão, e que dirigiu Bronson em outras produções, entre elas, os clássicos do gênero de ação, 10 Minutos para Morrer (aquele que Bronson persegue um tosco psicopata que ataca peladão) e a Kinjite: Desejos Proibidos (pérola onde Bronson usa, pasmen caro internauta, um consolo como arma letal contra um pedófilo).Como uma espécie de rodízio entre as cidades, a ação do quarto filme volta a Los Angeles, cidade da trama do segundo filme, onde Kersey vive de boa como arquiteto, dando uns pegas numa repórter até que a filha dela, morre de overdose e, como bom padastro durão que é, detorna com o traficante responsável por dar a droga letal a mocinha indefesa. Kersey iria voltar a programação normal de pacato cidadão, mas não contava que um tosco milionário, com a cara do finado presidente da república Jânio Quadros, iria chantageâ-lo para que detorne com os dois poderosos chefões do tráfico local. Após fazer o serviço, Kersey descobre que foi usado pelo cara que na verdade não passa de um traficante que queria, literalmente falando, eliminar a concorrência e aí, o pau vai comer mais uma vez. O roteiro deste filme é fraquíssimo e força a barra para tornar Kersey num sub-Braddock, com direito até usar a mesma trilha do primeiro filme do personagem durão imortalizado por Chuck Norris. As sequências são tão mal feitas, que erros grosseiros pipocam na tela, como na cena que Kersey detona com sua brazuca claramente um manequim substituindo o ator que faz o vilão. Nada funciona neste que, disparado, é o pior filme da série e da parceria Bronson e Lee Thompson. Recebe a nota 2,5, apenas por algumas interessantes sequências de ação e para matamos a saudades do durão Bronson.



Com a falência da Cannon, Bronson ainda voltou ao personagem pela última vez em Desejo de Matar 5 - A Face da Morte, lançado por aqui pela Europa Vídeo. Seguindo o rodízio de cidades, a trama volta a se passar em Nova Iorque, onde a vida de Rambo da terceira idade ficou no passado e Kersey vive tranquilamente como um pacato cidadão, professor de arquitetura e dando uns pegas numa estilista de sucesso. Até que o tosco e violento ex-marido da moça, resolve espancá-la e matá-la, e ainda por cima raptar sua filhinha. Motivo suficiente para Kersey sair da aposentadoria e partir para a sua última jornada vingativa. Sem o mesmo exagerado ritmo frenético da fase Cannon, o filme tem um roteiro bem desenvolvido, respeitando a idade de Bronson, onde o personagem só age quando o seu limite de paciência é ultrapassado. Mesmo com o ritmo lentíssimo, devagar quase parando, o filme tem seus momentos e diverte os fãs do gênero. Um final razoável para a franquia. Nota 4,0.



Rick Pinheiro.
Cinéfilo.

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