terça-feira, 6 de setembro de 2011

MACACADA EM SÉRIE.*

Filmes.
Macacada em série.

Dando continuidade a minha promessa de a cada semana tentar postar comentários sobre uma série que marcou a sétima arte, ainda no clima de Planeta dos Macacos: A Origem, em cartaz nos cinemas, resolvi rever todos os filmes da série setentista  O Planeta dos Macacos e de quebra ainda o remake de 2001, Planeta dos Macacos, dirigido por Tim Burton. Postarei aqui minhas sinceras opiniões sobre estes filmes que, com seus altos e  baixos, sem sombra de duvida, marcaram a história do cinema. Então, sem perder tempo, vamos direto ao assunto.

UMA OBRA-PRIMA DA SÉTIMA ARTE.

É como podemos definir o filmaço O Planeta dos Macacos (1968), clássico da ficção científica estrelado pelo saudoso Charlton Heston, que interpreta o astronauta George Taylor, que junto com outros três, se perdem no espaço e viajam no tempo até o absurdo ano de três mil e cacetada, caindo num planeta onde a macacada domina geral e os seres humanos são animais irracionais.

Com um roteiro muito inteligente que inclue um dos finais mais impactantes da história do cinema, o filme faz uma crítica ferrenha a conjuntura política-social da época, marcada por guerras, ditaduras absolutistas, a justiça falha, avanços da ciência,  entre outros. Tudo inteligentemente criticado, sobrando até mesmo uma desnecessária porrada a religião, principalmente, a Igreja Católica, que na época vivia sua própria revolução interna no clima do Concílio Vaticano II. Curiosamente, o único movimento da época ignorado (ou não) no filme foi justamente o feminismo, já que a única personagem feminina humana, aparece no filme usando apenas alguns paninhos, entrando muda e saindo calada, sendo um mero objeto de Taylor, também com pouquíssima roupa. Irônicamente, o nome da personagem era Nova, mesmo sendo uma mulher objeto à moda antiga, submissa e inferior ao homem. 

As críticas muito bem elaboradas e inseridas na história fazem de O Planeta dos Macacos mais que um filme de ficção científica, mas até certo ponto um filme político,  já que nos leva a várias reflexões sociais e filosóficas, algumas delas que ainda hoje são atuais. Com isso, a ação é deixada de lado e quase inexistente, o que torna um filme bastante inovador e praticamente único no gênero até hoje. Mas, engana-se que o filme é chato e enfadonho. Muito pelo contrário, Planeta dos Macacos é um filmaço até hoje insuperável, que prende a nossa atenção do começo até a impactante cena final.

Ao contrário das reflexões sociológicas que não envelhecerem com o tempo, os efeitos especiais tornam o filme um pouco tosco para os dias de hoje. Mas, em compensação, a maquiagem ainda impressiona, principalmente por pequenos detalhes nos rostos dos símios, permitindo que os atores pudesse usar e abusar das expressões faciais. Merecidamente, o responsável pela maquiagem ganhou um Oscar especial pelo seu brilhante trabalho, numa época em que ainda não existia a categoria Melhor Maquiagem. 

O elenco está afiadíssimo, com destaque a Charlton Heston em todo seu vigor interpretativo, dando um show na pele do arrogante Taylor, e aos intérpretes dos símios, em especial, Roddy McDowall (Cornelius), Kim Hunter (Zira) e Maurice Evans (Zaius). As brilhantes interpretações, junto com a impressionante maquiagem, só reforçaram ainda mais a "veracidade" dos símios falantes.

Com um roteiro excepcional e inteligente, O Planeta dos Macacos é um filmaço que está entre os melhores da história do cinema. Envolvente e criativo, ao mesmo tempo que diverte, o clássico filme nos leva a pensar sobre vários aspectos, como o ser humano está  desumanizando e  se auto-destruindo. Um clássico que, obrigatoriamente, deve ser visto e revisto. Imperdível! Nota: 9,5.



MICAÇOS SEQUÊNCIAIS.

De uma obra-prima inteligente e divertida ao trash total. É como podemos definir a franquia originada do clássico O Planeta dos Macacos, que invadiu as telonas e influenciou a cultura pop na primeira metade dos anos setenta (até os nossos queridos Os Trapalhões visitou o Planeta dos Macacos, no filme de estreia do saudoso Mussum no grupo). Com o sucesso estrondoso daquela obra prima, os produtores tinham em mãos uma fonte de dinheiro. Por isso, tiveram a ideia de fazer uma franquia, sem ter um cuidado melhor com o roteiro. Dois anos depois daquele clássico excepcional, chegou as telonas a primeira das quatro infelizes continuações: De Volta ao Planeta dos Macacos.

Heston não estava nem um pouco a fim de fazer este filme, mas acabou topando fazer uma participação menor como Taylor. O protagonista aqui é o fraco e desconhecido James Franciscus, que interpreta Brent, astronauta norte-americano que viaja no tempo, indo até 3955 resgatar Taylor. Chegando lá, não somente descobre que os macacos é que mandam no pedaço, mas também encontra um grupo de humanos telepatas e hipnóticos que idolatram com deus, pasmen, uma bomba atômica. Só pelo enredo, típico de filmes "B", já podemos ter ideia que bomba é este filme.

As reflexões inteligentes do primeiro filme diminuem consideravelmente, dando lugar a mais ação. Mas. o filme é fraquíssimo e insosso. Nada escapa da mediocridade, nem mesmo as interpretações. Heston, espantosamente, está canastrão, não lembrando em nada a brilhante atuação do filme original. Personagens interessantes daquele filmaço, como o casal símio Cornelius (David Watson, substituindo McDowall, em único filme da série que não atuou) e Zira (Kim Hunter) são deixados de lado, praticamente sumidos da trama. Por incrível que pareça, apesar do roteiro tosco e das péssimas atuações, o filme ainda consegue prender a atenção até a primeira metade. Mas, quando surge a tosca seita, o filme desanda de vez, indo do razoavelmente aceitável ao patético total, tornando o filme tosco na época, imagina nos dias de hoje.

Em síntese, De Volta ao Planeta dos Macacos, é uma decepcionante e inferior continuação que não faz jus ao filme original. Uma prova viva que excelentes filmes, não precisam de continuações. Descartável e totalmente tosco, serve apenas para arrancar algumas risadas de tão ridículo que é. Apesar disso, o filme fez sucesso de bilheteria e ganhou mais continuações e duas séries televisivas. Nota: 2,5.


 

No ano seguinte, foi a vez de chegar as telonas o divertido A Fuga do Planeta dos Macacos, que desta vez não só deu destaque aos simpáticos Cornelius (Roddy McDowall, voltando ao personagem após não ter  escapado do vexatório filme anterior) e Zira (Kim Hunter), mas também os promoveram ao posto de protagonistas.

A trama continua tosca, tipicamente de filme "B". Os pombinhos Cornelius e Zira, juntos com Milo, outro cientista símio, voltam no tempo, ao planeta Terra dos nossos dias (leia-se 1971), sendo os únicos sobreviventes da tosca explosão nuclear que ferrou com o planeta todo no final do filme anterior. Inicialmente, são recebidos como celebridades, mas depois tornam-se para alguns burocratas uma ameaça à existência humana, passando a ser caçados implacavelmente.

De todas as continuações, esta é a melhor, mesmo não sendo uma obra-prima como o primeiro filme. A comédia é elevada ao extremo, mudança de gênero perfeitamente aproveitada pelos ótimos McDowall e Hunter, que tornam o filme interessante e divertido. Mas, ao exemplo do filme anterior, começa a desandar nos minutos finais, com a caçada e triste desfecho do simpático casal. A cena final onde o bebê-macaco César fala "mamãe" é patética e arranca risadas de tão tosca que é.

Além de McDowall e Hunter, quem também paga um micaço neste divertido trashão é o saudoso Ricardo Montalban (o Sr. Hart da série televisiva Ilha da Fantasia), que interpreta Armando,  dono de um circo que acolhe o casal símio, no meio da perseguição.

Apesar de todas as limitações, o filme é um divertido trash que empolga, emociona e arranca risada. Inferior ao filme original, mas é a única continuação que realmente diverte. Nota: 7,0.



Depois de um divertido filme, no ano seguinte foi a vez da franquia cair mais uma vez de nível, assumindo cada vez mais seu status de trash, na tosca continuação A Conquista do Planeta dos Macacos, estrelado pelo  saudoso Roddy McDowall  desta vez interpretando César, filho de Conelius e Zira, elevando o nível de  canastrice ao extremo. 

Na trama, cada vez mais ridícula, César vive em nosso planeta, no "futuro" (leia-se 1992), onde a macacada substituem os humanos em trabalhos que o filme define claramente como inferiores (garçons, garis, cabeleiras, manicures, cozinheiros, engraxates, etc. Puro preconceito dos roteiristas). Cansado de ver os maus tratos sofridos pelos macacos, César se invoca e lidera a revolução que será o início do domínio da macacada sobre o nosso planeta.

Apesar da trama lembrar o recente Planeta dos Macacos: A Origem, o roteiro do filme símio de 1972 é fraquíssimo e tosco, perdendo de goleada para a recente super-produção. O início da rebelião é sem lógica e patética (César recruta os símios só com um tosco "olhar 43") e chega a provocar risadas, assim como a morte de Armando (Montalban, voltando a pagar mico), de tão mal feitas que são. As fraquíssimas coreografias de lutas junto com as canastrices dos atores só aumentam ainda mais o nível trash do filme. Resumindo: mais um tosco filme descartável da franquia, que não chega a ser ruim, mas, também não faria falta se não existisse. Nota: 4,5.



No ano seguinte, A Batalha do Planeta dos Macacos chegou as telonas para fechar a franquia nas telonas, retornando apenas em 2001 pelas mãos de Tim Burton. E só não foi o fim da franquia por completo, pois no ano seguinte, ganhou uma série na telinha, e no seguinte, uma série animada, ambas com apenas uma única temporada.

Neste último filme, como no anterior, a ideia até é interessante: macacos e humanos, governados por César (McDowall), vivem em harmonia num planeta pós-explosão nuclear. Só que Aldo, gorila  "humanofóbico" e,  paralelamente, alguns humanos que vivem isolados, resolvem acabar com esta paz, querendo ferrar com todo mundo, principalmente com o tonto do César. 

O roteiro é fraco, típico de produções de ação classe "Z", desperdiça mais uma vez uma boa ideia. E tudo só piora, graças as cenas de ação toscas e a canastrice do elenco. Além de McDowall, desta vez quem paga um micaço (pelo menos aqui, sem o tosco olhar 43 convocatório para a rebelião) é o saudoso e genial ator/diretor John Huston, como o orangotango Legislador, que é uma espécie de narrador da história. Incrível como alguém tão talentoso, topou participar desta merda.

Em síntese, o quinto e último filme da  franquia é um trashão morgadinho, que são não é o pior dos piores de uma série, porque o segundo filme inventou de perder o rumo a partir da segunda metade. Outro filme que pode ser esquecido e permanecer pegando poeira nos porões das emissoras televisivas, pois não faz falta. Nota: 4,0.




MACACOS RENOVADOS.

As toscas continuações para o cinema e série televisiva não foram suficientes para deixar a macacada falante extinta. Depois de um longo período de quase trinta anos longe das telonas, em 2001, o talentoso diretor Tim Burton retirou a macacada da apoesentadoria que parecia vitalícia, lançando o remake Planeta dos Macacos, estrelado por Mark Wahlberg, como um astronauta que se perde no espaço e tempo, indo parar num planeta onde a macacada reina. Mas, as semelhanças entre o original e este remake terminam aqui.

O roteiro traz uma nova roupagem ao clássico e inesquecivel filmaço de 68, com novos personagens e trama, uma reinvenção total. Se, por exemplo, no clássico de 68, os humanos não falavam e pensavam, nesta nova versão, eles não só falam, mas também pensam e, inexplicavelmente, são escravos da macacada, se rebelando apenas com a chegada do homem vindo do céu, Leo Davidson (Wahlberg). 

Os discursos e as mensagens engajadas do filme original são totalmente ignorados, fazendo deste remake mais um blockbuster de ação dos nossos dias.  Mas, apesar da total mudança no gênero e no enredo, particularmente não acho Planeta dos Macacos, de Burton, um fiasco total, como muitos o consideram (o filme ganhou três framboesa: pior remake ou sequência, pior atriz coadjuvante para a lindíssima Estelle Warren e pior ator coadjuvante para Chalton Heston). É um filme tão bom quanto o original, mas sem qualquer semelhança entre eles, com exceção do tema "macacos dominam humanos até humano do espaço chegar e liderar rebelião". São dois filmes totalmente diferentes que apesar do mesmo tema, não podem ser comparados. Algo dificil de ser evitado, já que ambos beberam na mesma fonte. Um prova que um remake não precisa ser necessariamente uma filmagem literal do original.

O elenco tem algumas boas interpretações, principalmente os atores que, muito bem maquiados, dão vida aos símios, como Helena Bonham Carter (a Rainha de Copas do novo Alice no País das Maravilhas), Michael Clarke Duncan (o inesquecível John Coffey do excepcional À Espera do Milagre), Paul Giamatti (Se Beber, não case - Parte II) e até mesmo Cary-Hiroyuki Tagawa,  (tradicional vilão oriental em filmes de ação dos anos 90, como Massacre no Bairro Japonês e Mortal Kombat), supreende. Curiosamente, o saudoso Chalton Heston faz uma ponta, desta vez como macaco, interpretando o pai de Thade. Uma homenagem simples, mas sincera de Tim Burton, não somente ao protagonista do memorável clássico, mas a todos os fãs.


Mais o grande destaque do filme, sem dúvida, é Tim Roth (o Abominável de O Incrível Hulk e hoje protagonista da ótima série televisiva Lie to me), que rouba a cena, dando um show de interpretação como o vilão General Thade. Sua interpretação é perfeita e ofusca a de todos os colegas de cena, até mesmo do protagonista Wahlberg, muito fraco e limitado em seu personagem, que não lembra em nada o saudoso George Taylor, interpretado no original por Chalton Heston.  
Já a parte técnica, é o único ponto que supera o filme original, mas, apenas por causa da evolução dos recursos dos nossos dias. Os efeitos especiais são bacanas, perdendo apenas para o novo Planeta dos Macacos - A Origem. A maquiagem é outro ponto alto do filme, muito bem feita e em alguns personagens símios chega a impressionar.

Com um enredo totalmente modificado e ação em ritmo mais acelerado, esta nova versão, que muita gente abomina, para mim é um filme satisfatório. Mas, ao contrário do original, nada acrescenta ao gênero, sendo apenas mais um blockbuster mediano de ficção/aventura, consideravelmente longe de ser uma obra prima como o original. Nota: 7,0.



Rick Pinheiro.
Cinéfilo alagoano.

* = Postagem revisada e reformulada em 1º de junho de 2024.

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