terça-feira, 6 de setembro de 2011

DISTORCENDO A REALIDADE.

Filmes.
Distorcendo a realidade.

Quem acompanha este humilde blog, sabe da preoucupação deste blogueiro em relação a filmes baseados em fatos reais, ou melhor dizendo, em crimes cometidos na vida real, que tendenciosamente, os roteiristas omitem as realidades dos fatos e enaltecem a figura do bandido. Esta tendência perigosa, que principalmente o nosso cinema tem em excesso, já geraram ótimos filmes como Carandiru, Meu nome não é Jonhny. Só este ano dois grandes lançamentos do nosso cinema, VIPs e Assalto ao Banco Central, pegaram carona nesta lamentável tendência de distorcer a realidade e apresentar bandidos reais como heróis. Mas, o filme nacional que extrapolou vergonhasamente nesta triste tendência, sem sombra de dúvida foi Última Parada- 174, dirigido pelo competente Bruno Barreto e que foi exibido na noite do último domingo, na sessão Domingo Maior, da Rede Globo.

A trama gira em torno de dois jovens conhecidos como Alê. Alessandro foi tirado ainda bebê do colo da mãe e foi criado por um violento traficante,  portanto, só conhecendo apenas o mundo do crime. Já Sandro, é um menino talentoso e sonha em ser cantor de rap, que perdeu a mãe trabalhadora num triste assalto. Após este fato, inexplicávelmente, vai morar na rua, escapa da terrível chacina da Candelária e anos depois, revoltado com as decepções da vida e vítima de um mal entendido, acaba fazendo reféns os passageiros do Ônibus 174, fato que na vida real terminou com a morte trágica de uma jovem refém e a morte misteriosa do marginal no camburão do BOPE.

Um roteiro muito bem elaborado e interessante, mas indigesto, por um pequeno detalhe: o filme é baseado em fatos reais, sendo 100%  ficcional, algo que os produtores informam apenas no final dos créditos finais, que ultimamente na TV vem passando em alta velocidade, com a  utilização da tecla fast foward. Não quero fazer juízo de valor da pessoa do  finado Sandro, até porque não conheço a história real dele (e parece que os roteiristas também não). Mas, é vergonhoso e chega  a ser ofensivo à família daquela jovem vítima, que salvo me engano era noiva e estava indo comprar um presente do dia dos namorados para o seu noivo, fazerem um filme totalmente ficcional, onde nada se fala sobre ela e ainda por cima enaltece a figura do seu algoz.

Deixando o mal-estar um pouco de lado, reconheço que Última Parada - 174, é um ótimo e envolvente drama, como excelentes interpretações e com uma lição que ninguém nasce bandido, mas é levado ao mundo do crime, por vários fatores, entre eles, a própria educação (ou falta dela) familiar, as tragédias pessoais e falta de oportunidade. Nestes pontos, o filme é ótimo e merece ser conferido.  

Apesar de reconhecer ser um bom filme como obra de ficção, Última Parada - 174 comete o gravíssimo erro de distorcer totalmente a realidade e elevar ao extremo a figura deste assassino, que ceifou a  vida de uma jovem, com um belo futuro pela frente. Bola fora na filmografia indiscutível de  Barreto.



Rick Pinheiro.
Cinéfilo, mas preocupado com a distorção da realidade e enaltecimento da bandidagem, em filmes baseados em fatos criminosos reais. 

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