quarta-feira, 25 de agosto de 2010

ADEUS A UM HERÓI (AO MENOS, POR ENQUANTO).

24 de agosto é uma data muito marcante para mim. Foi num 24 de agosto, do ano de 1991, que iniciei o meu primeiro namoro oficial, de porta. Dez anos depois, no fim de noite de um mesmo 24 de agosto, comecei a "chavecar" aquela que viria a ser a namorada que mais tempo eu permaneci. E ontem, outro 24 de agosto, assistir a última hora de um herói da televisão: Jack Bauer, interpretado brilhantemente por Kiefer Sutherland.

A série 24 horas sem dúvida é uma divisor de águas na TV mundial. Acostumados a heróis até certo ponto bobinhos e a várias séries investigativas e suas filiais, em 2001 fomos supreendidos por um anti-herói durão, doido de pedra, disposto a tudo para cumprir o seu dever de salvar os EUA dos malditos terroristas e de inimigos corruptos internos, inclusive utilizando métodos nada convencionais e 100% fora da lei, para obter os seus objetivos. Para os norte-americanos, um exorcismo dos traumas de 11 de setembro (coincidentemente ou não, a última temporada se passa na cidade vítima dos atentados, Nova York). Para nós do restante do mundo, uma excelente série, repleta de ação, suspense e intriga política, nunca vista na televisão.

Além da ação frenética e das atitudes psicóticas do protagonista Jack Bauer, a série também inovou em mostrar os bastidores podres da política norte-americana, revelando que não somente a nossa classe política está repleta de corruptos e canalhas. A série não teve medo de mostrar ao mundo que o cargo mais importante dos Estados Unidos, é ocupado por pessoas falhas, indecisas, com caráter duvidoso, assessoradas, ora por boas pessoas, ora por canalhas e traidores de primeira linha. O que poderia ser algo chato e monotóno principalmente para aqueles que curtem muita ação e quase nada de falação, graças ao enredo criativo, repleto de reviravoltas, e a excelente interpretação dos atores, os bastidores do poder, prenderam a nossa atenção e muitas vezes mais do que as cenas de ação. 

Outro ponto que merece destaque é sem dúvida o fato de cada epísódio ser exibido em tempo real. Cada episódio, incluindo os intervalos comerciais, eram exibidos exatamente em uma hora, e o enredo se desenrolava neste mesmo tempo. Algo com certeza inovador e criativo, qualidades cada vez mais raras  na programação da TV mundial. Sem falar no relógio que aparecia em cena, mostrando várias cenas acontecendo naquele tempo, o que dava um tom mais realista a cada episódio. Em época em que os chatérrimos e dispensáveis reality shows tomaram conta de boa parte da programação, ainda bem que temos ideias criativas na ficção, como a série 24 Horas.

Mais o grande sucesso da série é sem dúvida o seu protagonista. Jack Bauer é um anti-herói durão, à moda antiga, o exército de um homem só, que desobedeçe até os seus superiores, incluindo quando eles são o chefe maor da nação. Como podemos ver, Bauer não é um ideia inédita, já que personagens que tanto fizeram sucesso no cinemão de ação dos anos 80 à exemplo de Rambo, Braddock, John MacLane, têm em comum estas características. O que torna interessante é que além destas características clichês, Jack tem uma dosagem das ideias mirabolantes e rápidas do Magayver da saudosa Profissão: Perigo e até mesmo do solitário herói em busca de um idela, de David Banner, da também saudosa série O Incrível Hulk (a cena final do último episódio exibido ontem, só faltou a clássica música instrumental e o Jack saindo pela estrada, com um mochilão nas costas, pedidndo carona).

Além do próprio Jack Bauer, a série nos apresentou vários outros personagens interessantes. Quem não lembra do primeiro presidente negro dos EUA, David Palmer? Até hoje a série é rotulada como profética, já que antes de Obama ser candidato na vida real, Palmer se candidatou (primeira temporada) e  presidiu os EUA (nas duas temporadas seguintes). A série encerrou com uma presidente mulher. Será outra "profecia"? Outro personagem marcante é Tony Almeida, o chefe implicante da primeira temporada, amigo-parceiro de Jack nas temporadas seguintes e que na sétima temporada (a única que infelizmente ainda não assistir), ressurgiu dos mortos. Sem falar na amiga de todas as horas, Chloe, uma nerd que sorrir pouco e até certo ponto chata, mas que  cresceu entre as temporadas, praticamente, dividindo com Tony Almeida, os postos de segundo protagonista e personagens tão populares como o Jack. Os vilões também marcaram. Tivemos o corrupto e canalha ex-presidente Charles Logan, que além de ser a cara do também corrupto Nixon, lembrava vários políticos do nosso país; a ex-amante de Jack, Nina Myers, responsável pelas vilanias principais das duas primeiras temporadas, inclusive assassinando a esposa dele. Até a Múmia dos dois primeiros filmes da série cinematográfica homônima, deu ar da sua graça e por pouco não ferrou com os EUA. Nem mesmo o pai do herói, Phillip Bauer, aprontou para cima do herói incorruptível, fazendo parte da imensa galeria de vilões.

Jack Bauer caiu como uma luva nas mãos do bom ator, mas até então limitado Kiefer Sutherland, que nos anos 80 e começo dos 90, fazia vilões em filmes marcantes da época como Conta Comigo, Os Garotos Perdidos, Linha Mortal (este ao lado da sua namorada na época, Julia Roberts), entre outros. Ele simplesmente supreendeu a todos, com uma excelente interpretação e pique para cenas de ação, um gênero que ele  não tinha atuado em nada significativo. Merecidamente, a crítica e os colegas reconheceram o seu talento e foi indicado para vários prêmios, tendo inclusive recebido o importante Globo de Ouro, de melhor ator por série dramática. Jack Bauer ressuscitou a sua carreira, que antes da série, estava na merda em filmes classe "z" lançados diretamente em DVD, e hoje, voltou a ser destaque, estrelando nos cinemas, em filmes ainda inferiores ao seu talento, como  os regulares Sentinela, onde co-estrela ao lado de Michael Douglas, e Espelhos do Medo, refilmagem norte-americana de um filme de terror oriental. Em ambos os filmes, interpretando personagens totalmente inverso ao durão e loucão Jack Bauer, mostrando a sua versatilidade, provando que, ao contrário dos anos 80 e 90, não é ator de um tipo de personagem.

24 horas ressuscitou não somente a carreira do seu protagonista. Durante todas as temporadas, a série teve participação de ex-astros dos anos 80 como Lou Diamond Phillips (o eterno protagonista de La Bamba), C. Thomas Howell e atores consagrados como o sempre vilão Dennis Hopper, o talentoso, mas ainda mal aproveitado pelo cinemão americano, o português Joaquim de Almeida, o canastrão  e eterno coadjuvante, Michael Madsen, entre outros. Na última temporada, foi a vez do  ex-astro teen dos anos 90, o canastrão Freddie Prinze Jr., participar da série, numa visível tentativa de colocá-lo como protagonista das próximas temporadas, algo que graças a Deus não vingou.  Além de tirar do fundo do baú atores que brilharam no passado, a série também revelou talentosos atores como Dennis Haysbert (Presidente David Palmer), Carlos Bernard (Tony Almeida), Elisha Cuthbert (Kim Bauer) e Mary Lynn Rajskub (Chloe). As duas últimas, aliás, foram coadjuvantes em filmes de comédias  adolescentes bobas como Um Show de Vizinha (Elisha) e Cara, cadê o meu carro? (Mary Lynn), e viram sua carreira decolar, ao se destacarem em 24 Horas. Kiefer Sutherland, também um dos produtores da série, prova que não estava preocupado em reerguer apenas sua carreira.

Evidente que a série teve o ponto negativo de exagerar na dose de violência e também nas situações irreais. Virou até piada o fato dos personagens da série, não fazer uma boquinha ou ir ao banheiro. Sem falar também, que o personagem Jack Bauer sofreu várias torturas, , levou tiros, facadas, explosões, ficando entre a vida e a morte, na maioria das vezes bem agarradinho a esta, mas que minutos depois (na maiorias das vezes no episódio seguinte), entrava em ação, detornando com os vilões, como se nada tivesse acontecido. Sem falar que suas feridas, com o desenrolar da ação, muitas vezes sumiam. Infelizmente um furo  no roteiro e não de  continuidade na montagem, este um erro que até certo ponto seria admitido por trata-se de uma série que narra em 24 episódios apenas um dia.

Após  oito temporadas, um filme televisivo (24 Horas: A Redenção, que infelizmente ainda não assistir), surge a questão de praxe: Quando Jack Bauer voltará a entrar em ação? Segundo o seu protagonista, em breve e nas telonas do cinema, pois já estaria sendo feito um roteiro onde o personagem atuaria na Europa, mas ao contrário de série, não seria em tempo real. Há também rumores de juntá-lo a um ícone  durão do cinema, o John MacLane, interpretado pelo carismático Bruce Wills, na série Duro de Matar. Ideias e boatos não irão faltar, até porque Jack Bauer é um personagem tão comentado na internet quanto o seu parceiro de título de "Homem mais perigoso do mundo" Chuck Norris e o eterno devedor de exatos quatorze meses de aluguel Seu Madrugada.

Os produtores são espertos e sabem o quanto a série 24 Horas pode render, tanto em roteiros criativos quanto de grana. A maior prova de esperteza deles foi justamente encerra-la agora, quando ainda estava no auge mas já estava começando a ficar repetitiva, ao contrário dos produtores de outra boa série, Smallville, que para mim, já esticaram a exaustão, abusando da boa vontade dos telespectadores. Enfim, seja qual for a ideia, ao contrário da tosca dupla inclusão cinematográfica da série Arquivo X, acredito que Jack Bauer tem tudo para repetir o feito da jurássica e para mim chatérrima, Jornada nas Estrelas,  fazendo uma excelente carreira de sucesso também nas telonas, principalmente agora em que os durões do cinemão de ação estão de volta.  

Em todo caso, oficialmente nós brasileiros nos despedimos ontem de Jack Bauer e cia. Como diz a chamada da série no canal Fox: "Sentiremos sua falta, Jack!".

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