Inicialmente quero parabenizar a direção do Centro Cultural SESI e a UFAL, pela realização deste brilhante evento, presenteando os cinéfilos alagoanso e quem nos visita, com filmes nacionais ineditos em nossa cidade.
O título desta postagem resume bem a minha opinião sobre os dois curtas e três longas que eu assistir na IV Amostra de Cinema Brasileiro, realizada na semana passada, que eu passo a comentar agora.
Na noite de abertura, tivemos dois filmes. O primeiro foi o interessante e divertido curta Recife Frio. De forma bastante criativa, assistimos um pseudo-documentário de uma emissora fictícia da TV Espanhola, registrando um curioso fenômeno meterológico, que atingiu a cidade de Recife, reduzindo drásticamente a sua temperatura. Com um elenco excelente, que consegue convencer como se estivessemos assistindo um documentário de um fato real e um roteiro criativo, o diretor faz uma crítica sutil a frieza humana que a cidade de Recife se tornou. Enfim, um curta que também pode ser chamado também de São Paulo Frio, Rio de Janeiro Frio e até mesmo Maceió Fria, afinal de contas a frieza humana é um fenômeno assombroso que atinge a maioira das cidades. Um curta imperdível, que merece ser conhecido
Após a exibição do curta, ocorreu a abertura da Amostra e fomos apresentados ao diretor Caco Souza, que fez uma introdução do seu primeiro longa, o badalado 400 contra 1: Uma História do Crime Organizado. A trama conta a história de uma quadrilha de assaltantes de banco, presa no Presídio de Ilha Grande, juntamente com presos políticos. Após este contato com estes intelectuais, o grupo resolve unir os demais para lutar por direitos e ideais coletivos. William (Daniel de Oliveira, fraco à altura do seu comprovado talento) é um dos líderes deste grupo, que fundou o Comando Vermelho. A nova organização cria uma conduta de solidariedade entre os presos, algo inédito até então. No início dos anos 80 o Comando Vermelho passa a agir nas ruas do Rio de Janeiro, realizando ousados assaltos.
O filme nos mostra que enquanto a ditadura estava mais preocupada em perseguir quem se opunha a ela, criminosos comuns iam se organizando, formando assim um Estado Paralelo, que hoje reina absoluto em nosso país e leva medo e terror a todos nós.
O filme apesar de muito interessante, não me agradou muito, em virtude do roteiro sem ordem cronológica dos fatos (ora estava nos anos 80, de repente voltava ao começo de 70, depois voltava para os fins deste período, e assim por diante), pela trilha sonora black, que apesar de ter tudo a ver com o período que se passa o filme, particularmente não me agrada. e por algumas cenas violentas, que aliás, também não desagradou a boa parte do público presente a sessão. Em síntese, 400 contra 1 é prova clara que filmes policiais brasileiros que narram o submundo já estão perdendo o folêgo. Não é a toa que José Padilha, brinlhantemente, inovou, em Tropa de Elite 2, focando mais a história na burocracia do sistema estatal.
Na sexta, cheguei logou cedo e tive a graça de prestigiar três ótimos filmes, entre eles, os dois que para mim, foram os melhores filmes que eu assistir na amostra.
O primeiro, e para mim, disparado o melhor que assistir na IV Amostra SESI/UFAL de Cinema Brasileiro foi Sonhos Roubados, de Sandra Werneck. O filme narra a história de Jéssica, Daiane e Sabrina, três amigas adolescentes (interpretadas por boas atrizes maiores de idade, com carinhas de meninas), moradoras de uma comunidade carente, que se prostituem para sobreviver. O filme é bastante realista e emociona, com uma excelente direção, que nos presenteia com excelentes interpretações, num roteiro baseado em fatos reais, envolvente, sem pieguice, em locações reais.
O filme conta com excelentes atores como Marieta Severo, Nelson Xavier, Angelo Antônio, Daniel Dantas e com a estreia do cantor de rap MV Bill, que ao contrário da cantora Nega Li totalmente apagada em 400 contra 1, brilha, na pele de um presidiário que se apaixona por uma das meninas. Mas todos esses são coadjuvantes de peso, pois sem dúvida o grande destaque do filme são as jovens protagonistas Nanda Costa, Amanda Diniz e Kika Farias, que roubam a cena e nos emociona e envolve com excelentes interpretações da vida sofrida de Jéssica, Daiane e Sabrina, respectivamente.
No filme, vemos que as meninas entram nessa vida, além dos problemas que cada uma tem (uma delas é a mãe solteira e briga com a sogra evangélica pela guarda da filha e a mais nova é abusada sexualmente em casa pelo marido da tia), mas pela total falta de assistência no Estado, com destaque ao caos da educação, já que protagonistas na maioria do filme, ficam ociosas por não terem aulas na escola em que estudam.
Em síntese, um excelente filme que figura no rol dos melhores filmes nacionais. Além de emocionar, o filme nos faz pensar. Quantas Jéssicas, Daianes e Sabrinas, no exato momento que escrevo esta postagem, esão perdendo a inocência, se prostituindo para sobreviver?
Após um breve intervalo de aproxidamente meia-hora, voltamos a exibição de mais dois filmes. O primeiro foi o curta Azul, que apesar do nome, não narra a história do meu querido time CSA. Quase sem nenhum diálogo, o curta narra a história de uma senhora que mora sozinha nos cafundós do brejo, que sempre se arruma à espera de um filho que acredita irá visitá-la. Cativante e emocionante, com um final supreendente, o curta mostra bem que mesmo na solidão, uma mãe nunca perde a esperança de encontrar o seu filho. Outro curta que merece ser visto.
O último filme exibido na sexta-feira e assistido por mim na amostra foi o documentário Paulo Gracindo: O Bem-Amado, que contou na plateia com a presença do seu neto, que é diretor de fotografia do filme. O documentário, que para mim é o segundo melhor filme que eu assistir na amostra, narra a trajetória do saudoso ator Paulo Gracindo, mostrando sua saída de Maceió em busca de realizar o sonho de ser ator até os seus últimos dias de vida. O diretor Gracindo Junior, filho de Paulo Gracindo e também ator, de forma cativante e emocionante, conduz os espectadores, através de cenas reais do homenageado em cena e em família, intercalando com depoimentos emocionantes de familiares e colegas de trabalho como Lima Duarte, Eva Wilma e Fernanda Montenegro. De fato um excelente documentário histórico, que nos faz matar a saudades e apresentam a nova geração este grande ator. Com certeza, quem assiste este documentário perceberá o quanto a dramatugia brasileira e mundial, carece de grandes a atores, como Paulo Gracindo.
Apesar de ter ido apenas dois dias, eventos como a IV Amostra SESI/UFAL de Cinema Brasileiro precisam ser cada vez mais realizados e valorizados pelo público alagoano.
Com eventos como esta amostra, o público descobre Cinema Nacional não é apenas os filmes da Globo Filmes, as comédias descompromissadas, os retratos do mundo cão e propagandas da doutrina espírita. O nosso cinema é riquíssimos de excelentes filmes criativos que emcionam e nos fazem pensar.
Mais uma vez, parabéns a direção do Centro Cultural SESI e a UFAL pela brilhante iniciativa.
E que venham as próximas amostras.
Rick Pinheiro.
Cinéfilo, já à espera da V Amostra SESI/UFAL de Cinema Brasileiro.