Depois de esperar ansiosamente por mais de um ano, por três filmes, fui hoje mesmo conferir o último da minha "trilogia da ansiedade". Tropa de Elite 2: O Inimigo agora é outro, estreia hoje em todo Brasil, e está sendo exibido em quatro salas aqui em Maceió. Primeiramente quero dizer: esqueçam as frases marcantes, a ação alucinante e a truculência do Capitão Nascimento do primeiro filme. Como o diretor vem dizendo e eu pude conferir hoje, Tropa de Elite 2 é um novo filme, que não repete a fórmula do primeiro. Ligeiramente é um pouco inferior a este, porém, não é um péssimo filme. Muito pelo contrário, é um excelente filme. Se o primeiro filme a adrenalina rola solta, no novo filme o que prevalece é a reflexão e uma luta mais silenciosa, tão estratégica quanto um jogo de xadrez. O inimigo desta vez não são os traficantes do Rio de Janeiro, mas o próprio sistema, representados por péssimos políticos, policiais corruptos que formam as milícias para "proteger" o povo de suas próprias ações.
Como no primeiro filme, a trama inicia-se quase no fim da história, com o carro do nosso herói, agora Coronel Nascimento sendo fechado numa emboscada para executá-lo. Após a eletrizante sequência de créditos iniciais com cenas marcantes do primeiro filme ao som da conhecida música tema do Tihuana, o roteiro volta no tempo, precisamente a quatro anos atrás, onde o BOPE é chamado para controlar uma rebelião no presídio de Bangu I. Após uma ação precipitada do agora Capitão Matias (André Ramiro, mais uma vez perfeito, só que agora o antigo idealista, dar lugar a um truculento figurinha repetida do Cap. Nascimento do filme anterior), testemunhada por um defensor dos Direitos Humanos, que mete bronca através da mídia, pedindo ao Governador providências. Evidente que, por questão política, Nascimento e Matias foram rebaixados.
Como a corda sempre arrebenta para o lado mais fraco, Matias é expulso do BOPE e volta ser um aspirante na PM, indo servir no Batalhão comandado pelo Capitão Fábio, o ex-recruta 02. Já Nascimento, por ganhar as graças da opinião pública que apoiou a ação do BOPE no presídio, foi exonerado do Comando do BOPE, e como ele mesmo disse "rebaixado para cima", tornando-se sub-secretário de Segurança Pública. Paralelamente, policiais corruptos descobrem um modo melhor para arrecadar dinheiro e formam as conhecidas milícias, levando terror e extorsão ao povo de comunidades carentes.
Nos dias de hoje, Nascimento se depara agora com um inimgo que ele não está acostumado a lidar: a política. Melhor dizendo, a péssima politicagem infelizmente tão presente em nosso país. Aos poucos, junto com Nascimento, vamos conhecendo que o problema da falta de segurança é causada pela politicagem, por conchavos entre péssimos políticos e os milicianos, formados por polícias corruptos. O filme é ousado e corajoso em mostrar toda essa podridão que rola nos bastidores do poder e chegamos a conclusão que eleição é um negócio. Se levarmos em conta que o Governo do Rio de Janeiro é um dos patrocinadores do filme, sem dúvida, o diretor José Padilha e sua equipe, são corajosos ao extremo.
O subtÍtulo "O Inimigo agora é outro", faz jus ao filme. Somos apresentados neste filme a criminosos piores e mais cruéis que os traficantes do primeiro filme, justamente, por serem pessoas que, em via de regra, deveriam está lutando pela melhoria da nossa sociedade e não servindo e facilitando a bandidagem.
Um desses péssimos políticos, interpretado brilhantemente pelo hilário André Mattos, é um Deputado Estadual que foi eleito graças a sua outra função de apresentador de programa sensacionalista, onde prega a tolerância zero aos bandidos, ao tráfico, mas serve-se e é servido pelas corruptas milícias.
O filme é um ataque direto a classe política e ao governo como um todo. Percebemos que todas as malzelas são geradas pelos péssimos governantes que só visam os seus próprios interesses e acabam perpetuando este círculo vicioso. Diante da podridão que nos é apresentada, até deveríamos perder as esperanças de mudança do caos do nosso país.
Deveríamos. Mas Padilha nos mostra que nem tudo está perdido e que jamais devemos perder as esperanças. Em contrapartida a tanta corrupção, temos pessoas que realmente fazem política e lutam por um Estado melhor, com no caso de Fraga, o defensor dos Direitos Humanos, que é eleito Deputado Estadual graças ao incidente em Bangu I, que luta incansavelmente contra toda corrupção que geradora deste caos que estamos mergulhados. O personagem é interpretado brilhantemente pelo sempre competente Irandhir Santos.
O outro herói, que nos dar esperanças por melhoras em nosso país, , não poderia deixar de ser o Coronel Nascimento, que agora terá que deixar de lado todos os métodos que ele achava eficazes para o combate a violência e descobriu novos, dentro do próprio sistema.
Os dois personagens são rivais apenas pelos métodos de ação, mas na verdade, ambos são genuínos heróis brasileiros, pois lutam, cada um ao seu modo, para uma sociedade e governo mais justo.
O elenco, assim como no primeiro filme, está ótimo, com destaque mais uma vez a Wagner Moura, que mais uma vez supreende ao interpretar um Nascimento perdido na nova função, à beira de uma depressão, com medo de perder o filho, mas que corajosamente, não se deixa vencer, lutando com todas as forças que lhe restam para combater o sistema, levando segurança a população. Wagner Moura humaniza o nosso herói e segura perfeitamente esta nova fase do personagem.
Além de Wagner Moura e André Ramiro, também estão de volta Maria Ribeiro, como a ex-esposa de Nascimento, Bruno D'Elia que no primeiro filme aparece negando pedido de férias a um PM, pelo mesmo não lhe pagar um suborno, e que neste filme, tem uma participação maior, onde o seu personagem, agora capitão, funda e dirige uma milícia, e Minhem Cortaz, que nos fez rir no primeiro filme como o corrupto Fábio que se deu mal no curso do BOPE, onde era conhecido como 02, e que agora é Capitão de uma guarnição da PM.
As caras novas, porém conhecidas, além do já citados André Mattos e Irandhir Santos, conta também com a presença de dois cantores populares: Seu Jorge e Dudu Nobre. O primeiro, aparece pouco, mas simplesmente rouba a cena na pele do traficante, que lidera a rebelião no presídio de Bangu I. Seu Jorge é um velho conhecido como ator, atuando até mesmo em filmes internacionais, sempre roubando cena. Seria um alívio se ele só se dedicasse a carreira de ator, pois nos pouparia de ouvir "Burguesinha".
Já Dudu Nobre, o diretor José Padilha deveria ter seguido a ideia que declarou ontem no Programa do Jô, que pretendia fazer o concurso "Quem viu Dudu Nobre", pois simplesmente não conseguimos vê-lo em cena, como um soldado figurante do BOPE. Até para conseguir a foto ao lado que comprova a sua participação no filme foi dífícil de encontrar. O diretor jura que ele está no filme, mas eu tenho por mim que o mico foi tão grande que Dudu fico no chão da ilha de edição. Quando for lançado o DVD do filme, vou procurá-lo atentamente. Se Dudu Nobre for mesmo bom ator como Padilha anda dizendo por aí, faço os mesmos votos que desejei a Seu Jorge.
Reparei uma certa fustração de boa parte do público ao fim da exibição de Tropa de Elite 2. De fato, quem foi ao cinema para ver ação frenética, táticas policiais violentas e a truclência e frases marcantes, tiveram uma grande fustração com este filme.
Pai e filho resolvem as crises de relação no tatame. Algo normal quando o pai é o durão Nascimento. |
Rick Pinheiro.
Cinéfilo.
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