Na minha semanal sessão de cinema, fui conferir hoje, na tela da sala 5 do Centerplex, o filme O Último Exorcismo.
Ao contrário do que alguns chegaram a comentar, não trata-se de um remake do clássico e amaldiçoado filme O Exorcista, mas de mais um filme de terror, filmado como se fosse um documentário para que o público acredite está diante de um caso real. Sub-gênero, que particularmente eu não gosto muito, inaugurado pelo primeiro A Bruxa de Blair, e que no ano passado ressurgiu com Atividade Paranormal. A principal característica deste tipo de filme é contar com um elenco de atores desconhecidos, que são os mais naturais possíveis,, chegando, em alguns casos. a personagens e atores terem o mesmo nome (Caso de Atividade Paranormal, que no próximo mês chega aos cinemas a continuação), por ter cortes mal-feitos, amadorismo mesmo, tudo isso para dar uma sensação de produto verídico. Evidente que por ter estas características, filmes assim, tem um supreendente retorno financeiro, já que os custos são mínimos, e as bilheterias arrencadam muito mais.
O Último Exorcismo, apesar de bem feito e manter o clima de produto real, foge um pouco as características dos seus antecessores do gênero, pois, ao contrário destes, os atores não estão naturais, mas interpretando personagens, num roteiro bem escrito, que narra a história de um reverendo protestante, que está fazendo um documentário, para provar que seus rituais de exorcismo é uma farsa, e leva a dupla de documentarista, para mais um caso que será o seu último. Mas ao chegar na residência, um pequeno sítio afastado de tudo, surge a dúvida, se está diante de um caso verdadeiro de possessão ou trata-se de um caso de doença mental, tanto da jovem menina, como dos seus familiares.
O filme prende a nossa atenção do começo ao fim, sem ser tedioso como os outros dois deste sub-gênero, principalmente pelas excelentes interpretações, pelo roteiro, repleto de reviravoltas e suspense, e o clima de documentário real. Os primeiros vinte minutos é muito interessante, mostrando o reverendo, na maior cara de pau, ensinando como dominia a técnica de iludir a fé alheia. Sem nenhum pudor, o reverendo desdenha da inteligência até mesmo os próprios fiéis da sua igreja. Em uma cena, ele diz para os documentaristas que o povo acredita em tudo que ele diz, e comprova na prática, quando no meio da sua empolgante e barulhenta pregação, ele dar a receita de torta de abacaxi da sua mãe, e os fiéis sem desconfiar dizem "Amém!", "Aleluia!". Em outra cena, o reverendo ensina todos os truques do exorcismo, fazendo até a própria pessoa, acreditar que de fato está possuída. "Eu tenho uma família e preciso de dinheiro!", é a justificativa do Reverendo Cotton Marcus. Gostaria muito que muitos fiéis de pastores picaretas como o Reverendo assistissem estes vinte primeiros minutos, e abrissem os olhos o que certos líderes diabólicos, que se dizem de Deus, são capazes de fazer para manipulá-los.
Mas não pensem que o Reverendo Marcus é um picareta, safado, um vilão. Patrick Fabian consegue humanizá-lo, fazendo o espectador ter simpatia pelo sincero e carismático pastor. Além de Fabian, o restante do elenco interpreta bem os seus personagens. O grande destaque sem dúvida é a jovem atriz Ashley Bell, que interpreta brilhantemente Nell, dosando bem a inocência, e ao mesmo tempo a possessão (ou esquizofrênia) da personagem.
Além das excelentes interpretações, o grande mérito do filme é justamente manter até os últimos minutos, o que de fato está acontecendo: possessão ou doença mental?
Curiosamente, o diretor do filme disse que este filme é uma homenagem ao clássico O Exorcista, mas nítidamente é uma homenagem A Bruxa de Blair, principalmente, na última cena, onde ocorre a mesma perseguição na floresta.
O final decepcionou bastante os espectadores da sessão das 15:50 da tarde de hoje, que condenou o filme todo como lixo (alguns até gritaram que queriam o dinheiro de volta), justamente por ser praticamente idêntico aos outros dois filmes deste gênero, ou seja, não resolvendo por completo os fatos, dando um gancho descarado para a continuação. Outra característica óbvia, e talvez única, para quem parte para esta linha de filme de ficção lançado como real.
Particularmente o fraco e óbvio final, não mudou a minha opinião sobre o filme. O Último Exorcismo não é um grande filme, mas também não é o lixo que os meus colegas de sessão acharam. Chega até a divertir, nos dar bons sustos e até mesmo nos fazer refletir como o sentimento mais puro do seu humano, a sua fé, é facilmente manipulada pelos péssimos líderes religiosos.
Enfim, assistam e tirem suas próprias conclusões.
Rick Pinheiro
Cinéfilo.