Há exatamente vinte e cinco anos, o humor ficava mais triste com a partida de Antonio Carlos Bernardes Gomes, o impagável Mussum. Músico, membro do grupo Os Originais do Samba, o seu lado cômico aflorou ainda quando fazia parte do grupo. Com dificuldades para decorar textos grandes, o talento nato do saudoso trapalhão o torna um dos maiores comediantes que tivemos a imensa alegria de ver em cena e que tanto animou nossa infância nos saudosíssimos tempos que éramos felizes e sabíamos disso. Nossa singela e humilde homenagem ao nosso estimado Kid Mumu da Mangueira é com esta postagem onde listaremos os filmes cuja sua participação são inesquecivis. Calcidis! Teremos bônus, fazendo algumas menções honrosas. Mais rápido que o impagável Muça virava um copo de mé, vamos a nossa lista.
Iniciamos com um empate na nossa lista. No primeiro dos dois filmes do grupo no ano de 1982, Mussum vive um dos vagabundos do título, amigos do icônico Bonga vivido por Renato Aragão, que mesmo na extrema miséria, cuidam de um monte de crianças e vivem fazendo armações para que elas sejam adotadas por ricaços. O saudoso comediante flamenguista, que aqui faz questão de usar o manto sagrado rubro-negro no figurino do personagem, tem algumas divertidas sequências com os colegas e também com a pirralhada.
Falando em futebol, Mussum que era apaixonado pelo esporte e tinha vários atletas no seu círculo de amizade, teve a chance de contracenar com ninguém menos que Pelé. Uma pena que o filme deixe muito a desejar, mas, Muça chama atenção como Fumê, um dos roupeiros de um clube de futebol e que jogam num time amador. Além de brilhar junto com os colegas, o eterno trapalhão cuida da trilha, compondo inclusive o contagiante pagode Cardeal, personagem de Aragão.
No filme onde o quarteto atua dividido durante boa parte, coube Mussum fazer dupla com o também saudoso Zacarias, fazendo um show de humor no palco, mandando muito bem. Os grandes destaques de Muça no filme, a sequência do Trapa Heavy, onde o quarteto parodia grupos de rock, e a animada criada por ninguém menos que o mestre Maurício de Sousa, vale a conferida neste que é um dos mais fracos filmes do grupo.
De um dos piores, agora vamos para um dos melhores filmes do quarteto. Muça faz parte de trio de caras durões, junto com Dedé e Zacarias, que desprezam o humilde Cinderelo, e que são chamados para ajudar uma família pacífica contra os desmandos de um fazendeiro local. Além da sequência em que disfarçado com os colegas entra numa festa do fazendeiro vilão, tem uma memorável e rápida sequência solo, onde treina os mocinhos se defenderem, utilizando passos de samba com arma letal. Simplesmente hilário!
Clássico do nosso Cinema Nacional que por si só é obrigatório. Junto com os colegas, Mussum está hilário como um dos funcionários do circo, que anda de saco cheio de só comer macarrão, o que rende bons e divertidos momentos de discussão com Zacarias, o responsável em fazer a boia. Imperdível!
Sem dúvida a maior - provavelmente, a única - picaretagem envolvendo os Trapas. Marcado, infelizmente, como o último com o quarteto formado, que só aparece juntos em uma única neste, este filminho teen traz Mussum aparecendo pouquíssimo, mas, roubando a cena, totalmente engraçado, como um pai de santo fajutão, acabando sendo um dos pouquíssimos pontos que salvam o filme de ser uma merda total. Não é a toa que está numa posição privilegiada em nossa lista, a frente e desbancando outros filmes onde o nosso Kid Mumu aparece muito mais.
Divertidíssimo filme que acaba sendo uma exceção da fase decadente dos filminhos ruins do grupo da segunda metade da década de 1980. Mussum está hilário, roubando a cena como um dos irmãos caipiras solteirões, que finalmente, acabam desencalhando. A sequência inicial com o mangueirense produzindo artesanalmente o seu precioso mé, e as que está bem acompanhado de Marlene Silva, são os grandes destaque do Muça neste filme.
Filme que marca o debute do nosso saudoso humorista num filme dos Trapas, aqui ainda sem Zacarias, exatamente doze anos depois da sua primeira e, até então, única aparição nas telonas. Mussum tem aqui um dos melhores e mais inesquecíveis desempenho cômico nas telonas, dando vida ao figuraça Guarda Azevedo, que acaba embarcando num balão, junto com um trio que perseguia, indo parar no tal planalto onde a macacada domina. Uma estreia com chave de ouro daquele que seria um dos trapalhões mais cultuado.
Num desempenho tão bom quanto seu debute num filme da trupe, no filme seguinte, que até hoje é a maior bilheteria dos Trapalhões, o saudoso humorista ainda mais engraçado e hilário, dando vida ao picareta Fumaça, que junto com seus amigos e parceiros de brigas forjadas para ganhar grana, Pilo e Duka, respectivamente, Renato e Dedé, são contratados para encontrar um arqueólogo desaparecido. Destaque especial para a sequência em que está enterrado até o pescoço com os companheiros e pede mé ao invés de água, e principalmente, a sequência em que Fumaça se passa por um general africano, até hoje, uma das mais memoráveis e impagáveis do nosso Cinema Nacional.
O melhor filme da trupe, na minha humilde opinião, traz a atuação mais surpreendente de toda carreira de Mussum, que declaradamente se dizia que não era ator. Inacreditável contido e praticamente bem sério, Muça arrancou elogios do autor da obra original que o filme se inspira, o mestre Ariano Suassuna, com o papel duplo de frei e de Jesus Cristo, dando um show de interpretação, incrivelmente sério, e com o texto na ponta da língua. Um feito e tanto para um cara que tinha dificuldades em decorar textos longos e que afirmava categoricamente que não era ator.
Sem sombra de dúvida, o filme do grupo que parodia o clássico O Mágico de OZ, traz a mais memorável atuação do Muça nas telonas, com direito a sua imagem como o Homem de Lata ser usada em boa parte dos memes. Sua atuação aqui pode não ser tão surpreendente quanto a de Jesus em O Auto da Compadecida, mas, também não fica atrás, estando entre as melhores. Totalmente hilário, com química com os companheiros elevada a enésima potência, Mussum convence muito bem como o clássico personagem em busca de um coração (uma triste ironia da vida que tenha sido esse órgão a causa de sua morte), e de quebra, ainda solta à voz. Indiscutivelmente, o momento alto do nosso Kid Mumu da Mangueira nas telonas.
MENÇÕES HONROSAS:
Buenas Noches, Año Nuevo!
Pouquíssima gente viu o debute nas telonas do nosso saudoso humorista nesta produção mexicana, estrelada pelo também saudoso ator Ricardo Motalban (o eterno Sr. Hart da série A Ilha da Fantasia). Quando sequer sonhava em ser um comediante, Muça apareceu numa cena deste filme, tocando reco-reco num grupo musical e dançando, provando que numa produção da terra de Chaves, é trapalhão que brilha e com samba no pé.
Este ano chegou aos cinemas o documentário Mussum - Um Filme do Cacildis, dirigido por Suzana Lira, mas, muito antes, no comecinho dos anos 1980, a própria trupe lançou o seu documentário. Narrado pelo eterno amado mestre Chico Anysio, é bem verdade que deixa bastante a desejar, mas, vale a pena conferi um pouquinho da intimidade de Muça e seus companheiros, bem como o que rolava nos bastidores.
Além de ser um filme divertido e imperdível da trupe, vale também como registro histórico por trazer locações no extinto garimpo de Serra Pelada. Mussum vive Mexelete, um dos quatro amigos que acidentalmente encontra um pequeno pedaço de terra com o metal precioso. O mangueirense participa de algumas canções do filme, junto com os companheiros, como a hilária Rapaz Alegre, que hoje, a patrulha chata pra caralho do politicamente correto, iria fazer mimimi por bobagem.
Filme da triste e curta fase que o quarteto estava desfeito, com Mussum, Dedé e Zacarias formando um trio, e Renato solando. Em relação a qualidade, ambas as partes saíram perdendo com dois filminhos ruins, mas, o trio acabou levando a pior, contraindo dívidas que se arrastaram por anos. Vale só pela conferida de ver o trio brilhando e mostrando que tem vida própria fora da sombra do companheiro cearense, com nosso Muça, além de hilário nas telonas, ser responsável pela trilha do filme.
Animação que, infelizmente, é um dos piores filmes da trupe. Mas, só o fato de vemos o saudoso quarteto nos traços do mestre Maurício de Sousa, vale a conferida curiosa. O saudoso Kid Mumu da Mangueira na versão animada tem uma sequência musical em ritmo de samba para chamar de sua.
O filme que marca a despedida do nosso saudoso humorista das telonas é uma aventura ecológica bobinha e divertida, onde ele divide seu icônico personagem com outros dois atores mais jovens. Mas, ao menos nas poucas vezes que aparece em cena, consegue manter o seu autêntico talento cômico. Não é uma despedida à altura de Kid Mumu, mas, também não chega a ser uma despedida melancólica.
Rick Pinheiro.
Cinéfilo alagoano.
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