quarta-feira, 12 de outubro de 2011

OS MELHORES FILMES DOS TRAPALHÕES QUE EU ASSISTIR NO CINEMA.

Filmes.
Os melhores filmes dos Trapalhões que eu assistir no cinema.

Observo as crianças de hoje em dia e fico triste pela falta de ofertas sadias e realmente divertidas que elas têm. Com exceção de raros Toy Story, Shrek, entre outros, a criançada do século XXI é bombadeada por lixos inúteis como High School, Rebelde versão Record, desenhos extremamente violentos e tantas outras porcarias, tediosas e nada educativas. Me orgulho de dizer que sou de uma época de várias opções sadias para a criançada, que por tabela atraia toda família. Lembro-me com muita saudades que, às 19 horas da noite de domingo, as famílias, inclusive a minha, se reuniam diante da TV, para assistir o programa do quarteto Os Trapalhões, que era tão divertido que se expandiou para o meio fonográfico e, sobretudo, para o cinematográfico, meio este, que fez do nosso cinema um grande campeão de bilheterias.

Os filmes estrelados por Didi (Renato Aragão), Dedé (Manfried Sant'Anna), Mussum (Antônio Carlos) e Zacarias, eram ingênuos, toscos, mas muito divertidos e engraçados. Na maioria, eram sátiras descompromissadas dos blockbusters hollywoodianos, os mesmos que costumeiramente apanhavam de goleada do quarteto nas bilheterias, transportadas para a nossa realidade brasileira. Os roteiros, geralmente fracos, eram superados graças a empatia e química perfeita entre o quarteto. Pela passagem do dia das crianças, comemorado hoje, faço agora uma agradável viagem no tempo e comento aqui os melhores dos mais dos vinte filmes estrelado pelo quarteto que tive a graça de assistir com meus pais no escurinho do cinema.

O PRIMEIRO FILME A GENTE NÃO ESQUECE.

O primeiro filme que eu me lembro ter assistido no cinema,  não somente dos Trapalhões, mas o primeirão mesmo, foi quando tinha cinco anos, quando meus pais levaram para assistir no saudoso Cinema São Luiz O Incrível Monstro Trapalhão, lançado em 1980. Nele, o quarteto trabalha como mecânicos de um equipe de corrida. Um deles, Jegue (Aragão), é metido a cientista e meio por acidente descobre um tosca fórmula que o transforma em um homem monstruoso, com uma força descomunal, causando muitas confusões.

Comédia despretensiosa e engraçada, onde a trupe, além de brincar com Hulk, satiriza também outro herói, o Superman, numa divertida sequência de sonho estrelada por Aragão.



O PRIMEIRO FORA DE ÉPOCA.

Sou de um tempo em que a época de férias eram verdadeiramente duas vezes ao ano (as férias de meio de ano durava um mês e não as míseras poucas semanas dos dias de hoje) e férias, era de lei ir ao cinema com a família assistir o novo filme dos Trapalhões. Infelizmente, pelas poucas salas de cinema que sempre foi um problema aqui de Maceió, nem sempre um filme, por mais que fosse de sucesso como dos Trapalhões, permanecia muito tempo em cartaz (o recordista foi apenas o musical Dirty Dancing em 1987). Mas, tínhamos a vantagem de alguns filmes, quando saia de cartaz dos saudosos Cinemas São Luiz e Ideal (ambos do Grupo Severiano Ribeiro), serem exibidos por mais algumas poucas semanas no Cine Pajuçara (antes de ser Cine Art Pajuçara e atualmente, Cine SESI). O primeiro filme que assistir tempos após o seu lançamento, numa época que ainda sequer existia VHS, foi Os Vagabundos Trapalhões, de 1982.

No filme, o quarteto junto com a atriz Louise Cardoso, eram mendigos, que moravam numa caverna, que tinham a bondade de pegar crianças de ruas e, forjarem situações toscas, para os endinheirados se sensibilizarem e adotarem as tais (esqueça qualquer coerência no roteiro, pois estamos falando de um filme dos Trapalhões). As coisas complicaram quando um garoto riquinho (Fábio Villa Verde), fugiu de casa e foi se abrigar com os vagabundos. Outra comédia boba e despretensiosa, que além da ótima atuação de Louise Cardoso que cumpriu direitinho o papel de ser um quinto trapalhão, contou com a participação de Edson Celulari, em início de carreira, como o pai do garoto e que ao final, descobre que seu pai Bonga (Aragão) é um mendigo, numa tosca cena de dramalhão mexicano.



MINHA PRIMEIRA TRILHA DE FILME.

Também em 1982, o quarteto lançou Os Trapalhões na Serra Pelada, época em que o famoso garimpo recebeu uma bela intervenção do Governo Federal, para acabar com a farra. Filmado no próprio local, a trupe desta vez dão vida aos garimpeiros  Curió (Aragão), Boroca (Dedé), Mexelete (Mussum) e Bateia (Zacarias) aventuram-se em busca de ouro no garimpo de Serra Pelada, numa época antes da intervenção federal, e acabam se metendo em confusão com um manda-chuva local e seu cruel e tosco capataz (o saudoso Eduardo Conde, que sempre fazia o vilão nos filmes da trupe). Para ajudá-los, a trupe com ajuda de Chicão (Gracindo Júnior), um figuraça indiozinho, que sempre escapava uma risada com as presepadas da trupe e até mesmo o exército brasileiro.

Particularmente, o filme é marcante por ser a primeira trilha sonora de filme que eu tive em minha vida, num cassete que por pouco não arrebentou de tanto escutar. Na verdade, eu tinha pedido a trilha sonora de O Cangaceiro Trapalhões, mas, como na antiga e extinta LOBRÁS - Lojas Brasileiras, não tinha, acabei abusando papai e mamãe para adquirir esta trilha que é tão boa e divertida quanto daquele filme.



ORGULHO DUPLO DE SER NORDESTINO.

Antes e após uma curta separação do saudoso quarteto, ocasionada por um justo pedido de Dedé, Mussum e Zacarias, em mais participação no faturamento, momento este que gerou dois filmes divertidos, mas sem o mesmo gás (O Trapalhão e a Arca de Noé, onde Didi dividiu o protagonismo com Sérgio Mallandro e Atrapalhando a Suate, estrelado pelo trio), o grupo estrelou dois filmaços, ambientados no Nordeste.

O primeiro, antes da separação, foi o divertidíssimo O Cangaceiro Trapalhão, que pegou carona no sucesso da minissérie da Rede Globo, Lampião e Maria Bonita, trazendo Nelson Xavier, Tânia Alves e boa parte do elenco, revivendo seus personagens neste clássico da TV brasileira. Na trama, o pastor de cabra, Severino de Quixadá (Aragão), se envolve sem querer num tiroteio entre uma volante liderada pelo Tenente Bezerra (José Dumont, hilário) e um grupo de cangaceiros, salvando a vida do líder deste Capitão (Nelson Xavier, ótimo). Paralelamente, no meio da confusão, dois ladrões meia-boca (Mussum e Zacarias) escapam da prisão e juntos com Severino vão parar no esconderijo do bando, que inclue na sua formação a esposa de Capitão, Maria (Tânia Alves, ótima) e Gavião (Dedé), braço direito do temível líder. Ao constatar a semelhança de Severino com Capitão (mais uma vez, esqueça a coerência do roteiro num filme dos Trapalhões), o mesmo lhe confia uma missão de se passar por ele numa festa que na verdade é um emboscada, levando consigo Gavião, Mussum e Zacarias.

O filme também conta com Regina Duarte, como Aninha, paquera de Severino, que acaba se ferrando e perdendo a mocinha, para um galante Tarcísio Meira em cima de um cavalo, numa tosca cena que satiriza o clássico Casablanca. Em compensação, o cabeça chata termina o filme podre de rico (como na maioria dos filmes) e na companhia de Bruna Lombardi, num dos raros filmes onde o personagem de Renato Aragão se dar bem no amor. Em síntese, um filme divetido, que está entre os cinco melhores filmes do grupo.


Em 1984, após a reconciliação, o grupo  estrelou o interessantíssimo e divertido Os Trapalhões e o Mágico de Oróz, que como o título já denuncia, é um satíra ao clássico O Mágico de Oz. Cansados com o clima de penúria que vivem por causa da seca, cruelmente explorado por um Coronel (o saudoso Maurício do Valle, outro ator sempre presente como vilão nos filmes do quarteto), o trio de amigos formado por Didi (Renato Aragão), Soró (o saudoso Arnaud Rodrigues) e Tatu  (José Dumont) t junto com  o frouxo delegado Leão (Dedé), sai de sua pequena cidade em busca de água. No decorrer da jornada, um espantalho com cara de palhaço (Zacarias) e um homem de lata, barril de cachaça (Mussum) se juntam ao grupo.

Nem mesmo a participação da  pé-frio Xuxa (os piores filmes do grupo, contaram com a participação dela ou da Angélica e do Gugu Liberato), como uma professora que namora o delegado Leão, consegue fazer o filme deixar de figurar entre os primeiros melhores filme do grupo.




FUTEBOL E OS TRAPALHÕES: DUAS PAIXÕES BRASILEIRAS.

Em 1986, o grupo tem a brilhante ideia de trazer o mítico Rei Pelé, e de quebra ainda contratar um craque das clássicas  chanchadas do cinema nacional, o experiente e saudoso Carlos Manga para dirigi-los em Os Trapalhões e o Rei do Futebol. Na trama, os amigos Cardeal (Renato Aragão), Elvis (Dedé Santana), Fumê (Mussum) e Tremoço (Zacarias) trabalham como faxineiros e roupeiros do Independência Futebol Clube. Devido às disputas de poder entre os cartolas  (os saudosos excelenetes atores José Lewgoy e Mílton Moraes), o técnico da equipe é demitido. Por acidente, o escolhido para assumir o cargo é Cardeal. Para surpresa de todos, com o seu louco esquema tático, o time começa a vencer, o que não agrada a alguns cartolas da equipe. Com a ajuda do repórter esportivo Nascimento (Pelé) e de Aninha (a estonteante Luíza Brunet, como era chamada no trailer), que trabalha no bar do clube, Cardeal e seus amigos lutam contra a desonestidade dos dirigentes.

O filme foi bastante criticado na época, por trazer alguns palavrões e gestos que não convinham a um filme infantil. Mesmo assim, o filme é uma divertida e hilária comédia do grupo. Curiosamente, o filme satirizava Fuga para Vitória,  filme de John Huston que tinha Sylvester Stallone e Pelé no elenco e de quebra, Rocky, Um Lutador, através do personagem Sansão, goleiro do time, interpretado pelo saudoso Marcelo Ibrahim (falecido pouco depois do lançamento do filme), que era a cara de  Stallone.



MEU FILME CULT DOS TRAPALHÕES.

A expressão cult além de definir um filme único, uma verdadeira obra-prima, é também usada  pelos cinéfilo para falar de um filme que foi mal na bilheteria ou detestado, mas que depois de algum tempo é descoberto e  cai no agrado. Foi o que ocorreu, ao menos comigo, em relação ao ótimo Os Trapalhões no Auto da Compadecida, de 1987, onde o grupo dar a sua versão para a obra-prima do genial  Ariano Suassuna. Na pequena cidade de Taperoá João Grilo (Renato Aragão) e Chicó (Dedé Santana) vivem aprontando, inclusive para cima dos seus patrões, um padeiro (Zacarias) e sua fogosa esposa (Claudia Jimenez). Toda cidade vive  sob os desmandos do Major Antônio Moraes (o saudoso Raul Cortez), até que num ataque à cidade o cangaceiro Severino (José Dumont), juntamente com João Grilo, o padeiro e sua esposa, o sacristão (o saudoso Sandro Solviatti), o padre (Emannuel Cavalcanti)  e o bispo (o saudoso Renato Consorte) morrem e vão encarar um julgamento no céu, diante de Jesus (Mussum, fazendo que também interpreta um frei), onde são acusados pelo diabo (Cortez, dando um show de interpretação)  e defendidos por  Virgem Maria (Betty Goffman, que assim como Mussum e Cortez, faz dois personagens no filme).

Quando criança, eu achava o filme um saco e que era o pior do grupo. Foi apenas no ano passado, ao adquirir o box e revê-lo com atenção que me encantei com a beleza poética da obra no filme do grupo com o roteiro mais bem elaborado. O filme foi um relativo e raro fracasso de bilheteria do grupo, mas conseguiu a proeza de arrancar elogios rasgados da crítica, que levava à sério demais os filmes do quarteto e descia a lenha. Mais que um filme dos Trapalhões, uma obra-prima do nosso cinema nacional, que precisa ser descoberta.



O MEU FAVORITO.

Depois da obra-prima, infelizmente, se sucederam um festival de péssimos filmes, com roteiros cada vez piores e onde o grupo recrutou ídolos infantis e teens da época Xuxa, Angélica, Gugu Liberato e Grupo Dominó, que simplesmente são péssimos atores. Uma triste e decadente qualidade nos filmes do quarteto que prevaleceu até o fim do grupo, precisamente até o penúltimo filme. Porém, como toda regra tem exceção, no meio do caos de ausência artística e criatividade, em 1988 foi lançado o divertido  O Casamento dos Trapalhões, uma clara sátira homenagem ao clássico Sete Noiva para Sete Irmãos. Na trama, a trupe vive quatro irmãos caipiras, que vivem num sítio, bem distante. O mais esperto deles (Didi), vai a cidade vizinha, arruma confusão com Expedito (José de Abreu, ótimo) e de quebra, ainda volta casado com a garçonete Joana (a sumida Nádia Lippi), que põe ordem no lugar e torna os toscos irmãos  apresentáveis.  "Coincidentemente", os irmãos recebem uma carta da irmã, onde seus sobrinhos (O Grupo Dominó, péssimos atores) irão tocar naquela cidade. Depois do show, assim do nada, os tios solteirões e os sobrinhos "artistas" conhecem e se apaixonam por moças do local e, inexplicavelmente, levam para o sítio deles, causando a ira de Expedito e dos outros figurantes que fazem os homens da cidade.

Quando criança, gostava tanto deste filme que achava que se tratava do melhor do grupo. E não era por causa da presença das musas da época da minha pré-adolescência Luciana Vendramini, Patrícia Lucchesi (jovem modelo que ficou famosa na época pelo clássico comercial do primeiro sutiã), entre outras beldades, mas pelo filme ser muito divertido mesmo, apesar dos toscos e frescurentos  desnecessários momentos de affair entre os teens. Mas, quem lembrar de rostinhos bonitinhos e totalmente canastrões, quando o filme tem os divertidos casais  formado pelos trapas, em especial, o inesquecível  Zacarias e Terezinha Elisa, e da pequena, mas marcante participação da saudosa Zezé Macedo. Pode não ser o melhor filme do grupo, mas, com certeza, ainda está entre os primeiros.



UM TRISTE FIM.

Como todos sabem, o grupo começou a se desfazer em 1990, com o falecimento de Zacarias. Meses antes deste triste fato, o quarteto vendeu gato por lebre no tosco Uma Escola Atrapalhada, que na verdade era estrelado por Angélica e Supla, e o grupo fazia pequenas e sem graça participações, sendo visto juntos apenas numa má elaborada cena, onde ao final, Didi ainda vomitava na cara do público a frase: "Isso é o que dá aparecer no filme dos outros". Lembro-me como hoje que esta frase me irritou profundamente, já que me sentir enganado. 

No final do mesmo ano, após a pancada do destino da perda do colega, o trio voltou as telonas em O Mistério de Robin Hood, com a tosca da Xuxa dividindo mais uma vez, como ocorreu em 1989 no também péssimo, A Princesa Xuxa e os Trapalhões. O filme é péssimo, mesmo contando com o saudoso Carlos Eduardo Dolabella, como o

Mas, em compesação, o último filme do grupo, em 1991, foi divertido Os Trapalhões e a Árvore da Juventude, que tem um dos enredo mais criativos da filmografia do grupo. Na trama, o  trio vive guardas-florestais que trabalham em plena Amazônia, onde combatem a ação de contrabandistas e acabam encontrando a fonte da juventude e dela bebem, tornando-se novamente crianças e, a medida que vão eliminando o liquido pela urina,  vão ficando mais velhos. O elenco que faz o trio atrapalhado na fase jovem é um show a parte, em especial, Carlos Loffer, neto do saudoso e genial Oscarito, como Didi com 25 anos.



ABRINDO UMA EXCEÇÃO, PARA ENCERRAR COM ALEGRIA.

Não poderia encerrar esta postagem sobre o quarteto que me trouxe tantas alegrias de forma triste. Por isso, apesar de comentar nesta postagem apenas os filmes da trupe que assistir primeiro no cinema, abrirei exceção para comentar pelo menos um, que assistir em casa. O escolhido foi o divertido e comovente A Filha dos Trapalhões, de 1984, um descarada homenagem sátira e homenagem ao clássico O Garoto, de Charles Chaplin, um dos ídolos declarado de Renato Aragão (o outro é o nosso Oscarito). Na trama, a jovem Júlia (Miriam Rios), tem a filhinha, ainda bebê, raptada por uma quadrilha de traficantes de crianças. Um quarteto de vagabundos que vivem num barraco flutuante, acha a menina e passa a criá-la, com muito amor. Anos depois, mãe e filha, se reencontram, graças as atrapalhadas do quarteto, que desce a porrada na quadrilha. Um filme tocante, envolvente, que arranca risadas e lágrimas. Outro que figura entre os primeiros melhores filmes do saudoso quarteto.



Completam a minha lista dos melhores filmes dos Trapalhões: O Trapalhão na Ilha do Tesouro (1974, ainda sem Mussum e Zacarias), O Trapalhão no Planeta dos Macacos (1976, estreia do Mussum), O Trapalhão nas Minas do Rei Salomão (1977, ainda sem Zacarias, a maior bilheteria da história do grupo e 4ª da cinema nacional) e Os Saltimbancos Trapalhões (1981, 5ª maior bilheteria do cinena nacional), sendo estes dois últimos os filmes do grupo mais exibidos nas saudosas sessões vespertinas da Rede Globo Sessão da Tarde, Festival de Férias e Temperatura Máxima.

Ô Psit! Espero que você tenha gostado desta pequena homenagem ao saudoso quarteto. Cacilds!

Rick Pinheiro.
Cinéfilo saudosista.

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