Comédia romântica para macho ver?
Uma tendência que os produtores hollywoodianos vêm adotando para atrair mais público é a mistura de gênero. Assim, filmes de ação ganharam protagonistas com rostinhos bonitinhos e comédias erotizadas ganharam romantismo para atrair a mulherada, enquanto que as comédias românticas, gênero que elas amam, passaram a ser mais picantes, para atrair a macharada. Neste último caso, podemos dizer que uma tentativa mais original de masculinizar o gênero típicamente feminino é o filme Amor a Toda Prova, estrelado por Steve Carrell e um elenco de peso, que acabei de assistir pela internet.
Na trama, Carrell é Cal, um quarentão que depois de mais vinte e cinco anos de casado, leva um pé na bunda de sua esposa (Julianne Moore, desperdiçada), que logo nos primeiros minutos do filme pede o divórcio e confessa que o traiu com David Lindhagen (Kevin Bacon, no piloto automático), um tosco colega de trabalho. Como casaram-se logo cedo, sendo ela sua primeira e única mulher, Cal se ver perdidão na inédita vida de solteiro, até que o solteirão pegador Jacob (Ryan Gosling, competente a medida que o roteiro permite), ao vê-lo num bar por várias noites lamentando sua cornagem, resolve lhe dar dicas de como ser um macho alfa. Paralelamente, o filho de Cal (Jonah Bobo) está gamado na babá (Analeigh Tipton), quatro anos mais velha, e uma jovem recém-advogada (Emma Stone, a mais perdida na trama), está presa nos livros e num relacionamento que somente ela acha que vai vingar.
A ideia de fazer uma comédia romântica para o público masculino é interessante, mas, no caso de Amor a Toda Prova, ficou apenas na pretensão. A começar pelo tosco título Crazy, Stupid, Love, que só afasta o público masculino, pois remete a uma comédia romântica tradicional. E o nosso título nacional, ainda mais tosco, só piorou a falta de interesse do público masculino por esta comédia. Falo por mim, que deixei de assistir este filme no Cine Lumière Farol, achando que seria mais um tosca e fresca comédia romântica. De fato, em parte, não deixa de se confirmar minhas suspeitas, o que me fez economizar uma boa grana.
O problema principal do filme é o seu roteiro que se perde bastante, principalmente, na trama paralela da jovem advogada, que aparenta claramente ser uma forçação de barra para satisfazer o público feminino. Faltou trabalhar melhor a ideia tão original de fazer uma "comédia romântica para macho ver", já que o filme acaba caindo na armadilhas típicas de uma comédia romântica tradicional, principalmente, a mais grave, de não ter graça, um pecado mortal para qualquer tipo de comédia. E a longa duração desnecessária só prejudicou este filme que somente minutos antes do final, resolve dar um gás, apelando para uma rápida e nada trabalhada comédia escrachada, momento único que causa risada e que tornaria o filme melhor e mais atrativo se tivesse sido desenvolvido durante toda trama. Mas, depois da divertida sequência, o filme mergulha de vez nos clichês bundas típicos de uma comédia romântica, com um final previsível e tosco.
O elenco de peso se esforça, mas está totalmente perdido em seus personagens mal elaborados. Salva-se apenas Marisa Tomei, que mesmo em participação pequena, rouba a cena e diverte com a sua personagem transtornada. Carell até se esforça, mas seu personagem foi mal elaborado, bastante repetitivo pela obsessão pela ex-esposa, tornando-se em alguns momentos chatíssimo e sem graça. Não foi desta vez que Carell conseguiu arrancar risada fácil e simpatia do público por um personagem seu.
Em síntese, um filme com uma ideia tão original, mas que ser perdeu pela falta de ousadia dos roteiristas, que preferiram realizar mais uma comédia romântica sem graça ao invés de seguir à risca o que se proporam a fazer. Uma louca, estúpida e nada amável decisão.
Rick Pinheiro.
Cinéfilo.
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