Filmes.
Um comovente drama familiar.
Não só de comédias descompromissadas, toscos dramalhões espíritas e cinebiográfias que fogem da realidade dos fatos, vive o nosso cinema nacional. Se tem um gênero em que nós dominamos muito bem nos últimos anos são os dramas sociais. Com personagens humildes, batalhadores, pessoas comuns que encontramos no nosso dia-a-dia, esses filmes relatam a vida real, com uma riqueza de detalhes impressionante. Um bom exemplo é o premiadíssimo Linha de Passe, que acabei de assistir agora on line.
Com direção dupla talentosa Walter Salles e Daniela Thomas, o filme relata o dia-a-dia de uma família humilde da periferia de São Paulo, formada pela mãe, grávida, e quatro filhos, cada um de um pai diferente. Cleuza (Sandra Corveloni), é uma mulher batalhadora, que sustenta a família como empregada doméstica, e está grávida do quarto, também de pai desconhecido; Dario (Vinicius de Oliveira) sonha em ganhar a vida como jogador de futebol, mas ver seu sonho ficar cada vez distante, por já ter dezoito anos, idade tardia para começar uma carreira no esporte; Dênis (João Baldasserini), é motoboy, que já tem um filho, e semper vive sem grande; Já Dinho (José Geraldo Rodrigues) é protestante e trabalha como frentista num posto de gasolina; e o caçula Reginaldo (Kaique de Jesus Santos), obsecado por conhecer o pai, motorista de ônibus, passa o dia e a noite passeando de coletivo. Cada um com seus conflitos internos, acabam fazendo escolhas, que definirão para sempre a vida da família.
O filme tem uma premissa até interessante, mas se perde da segunda metade para o final, onde se torna um pouco chato e cansativo. Os personagens são aprofundados até certo ponto, havendo falhas grosseiras, como por exemplo, o lado pai de Dênis pouco praticamente ignorado pela trama. E o final aberto e sem explicação só complica a sensação de fustração do espectador.
Mas se o filme peca pelo roteiro que apesar de razoável, deixa muito a desejar, em compensação, arrebenta na interpretação do seu elenco desconhecido (conhecido apenas Vinicius de Oliveira, com cabelo tosco a la Ronaldinho Gaúcho), e incrivelmente, parecidos fisicamente, o que dar mais veracidade a história, envolvendo o espectador. Sandra Corveloni, merecidamente, foi premiada como melhor atriz, no renomado Festival de Cannes, com sua interpretação perfeita, sem exageros, na medida certa, o que acabou favorecendo o filme, que chamou atenção pela premiação da desconhecida, mas veterana atriz do teatro paulista. Curiosamente, o galã global Mateus Solano faz uma pequena participação, como um playboyzinho, onde mal seu rosto aparece. Início de carreira é assim mesmo, moleque. rsss...
Apesar do roteiro que deixa a deseja e o final fraquíssimo, é inegável que Linha de Passe é um filme regular, que chama a atenção. Um comovente drama familiar que convence graças ao seu elenco afiado. Vale a pena assistir para conferir as brilhantes atuações, mas sem esperar muito do produto final.
Rick Pinheiro.
Cinéfilo.
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