segunda-feira, 12 de julho de 2010

COMENTÁRIOS SOBRE O FILME CHICO XAVIER.

Em abril deste ano, milhões de pessoas, infelizmente, a maioria católicas (até porque o número dos espíritas praticantes não é tão grande assim), correram aos cinemas para assistir ao tão comentado filme (tática de divulgação da Rede Globo) sobre a vida do médium brasileiro Chico Xavier. Como cinéfilo que sou e também para ter embasamento para poder contestar os valores do espiritismo propagado na tela, caso alguém viesse comentar, eu fui assistir. Afinal, não sou daqueles que vão metendo o pau em algo sem conhecer. Isso é atitude de fanáticos e não de uma pessoa consciente da sua fé. Sem falar que tenho convicção na minha fé e nada, nem mesmo um filme bem realizado, vai me fazer deixar de ser católico apostólico romano.

Levei um susto logo na porta do cinema. Calma, não vi o Elvis Presley, nem o Michael Jackson, nem o  Gasparzinho, nem nenhum outro fantasma! Mesmo indo quase um mês depois da sua estreia, enfrentei uma fila imensa, tendo até mesmo alguns membros de grupos e movimentos da Igreja, que não foram com a mesma intenção que a minha, mas porque simpatizam com a doutrina espírita, que, ao contrário que muitos divulgam por aí, não é mais um ramo do Cristianismo. Digo isso eu conheço bem essas pessoas e sei o quanto são católicos em cima do muro. Pregam e tentam viver apenas aquilo que lhes convêm. Enfim, deixando de falar mal do povo, vamos aos comentários deste filme tão badalado pela mídia (leia-se Rede Globo), que no final deste mês chega as locadoras e lojas de todo país, sendo mais badalado ainda. Durmam com uma vuvuzela dessa!  

Irei comentar sobre duas óticas: como cinéfilo e como defensor da minha fé. Primeiramente, os comentários do Rick cinéfilo.

O filme é bem dirigido, com excelentes interpretações. Angêlo Antônio brilha fazendo o protagonista em boa parte do filme. O cara é um excelente ator, fazendo uma interpretação excepcional. Com certeza, será premiado em muitos festivais. Nelson Xavier, que o interpreta mais velho também, apesar de está muito limitado, pois a maioria das suas cenas foram num programa de entrevista. Mas quando sai deste ambiente, arrebenta, como na engraçada cena do desespero do personagem a viajar de avião pela primeira vez, fazendo uma dobradinha perfeita com o grande ator Aílton Graça. Sem falar nas semelhanças físicas entre os Xavier, ator e biografado, que supreende. Quem acredita no Espiritismo vai jurar que o médium incorporou no ator. Mas o fato é que Nelson Xavier é um grande ator. Quem assistiu, por exemplo, a minissérie Lampião e Maria Bonita, sabe muito bem disso.

Ao contrário dos protagonistas, os demais atores decepcionam. Os sempre excepcionais Tony Ramos e Christiane Toloni desta vez não convenceram com os seus personagens, provavelmente pela limitação destes, mal elaborados e encaixados no roteiro. Pedro Paulo Rangel como o padre amigo de Chico Xavier, exagerou no sotaque, sendo cópia idêntica do seu personagem na novela A Indomada. Já Cássio Gabus Mendes exagerou na dose e acabou fazendo do padre, que parece que foi criado para ser o grande vilão do filme, uma figura caricata e patética. Aliás, vai ver que a intenção dos realizadores do filme era essa mesmo, fazer mais um personagem que riducaliza a figura do sacerdote. Para um produto da Rede Globo não seria supresa, nem muito menos novidade. Se foi mesmo essa intenção, então, Cássio conseguiu fazer um bom personagem.

O filme, em geral, é bom, apesar que arrastaram muito a história, principalmente as tediosas cenas da entrevista no programa de auditório, a choradeira da personagem da Christiane Toloni e as sessões espíritas, tornando o filme mais longo  do que merecia. Nota-se que os roteiristas fizeram o máximo para enaltecer a figura de Chico Xavier, transformando-o praticamente em um herói injustiçado, o que levanta dúvida sobre a veracidade dos fatos, limitando o filme a velha formula de bonzinhos e malvados, tornando o filme em muitas cenas, até bobinho, quase infantil.

Em síntese, um filme regular, que se segura principalmente pelas boas interpretações dos protagonistas que dividem o personagem e por algumas boas cenas de humor (a do bordel, onde o jovem Chico coloca as "primas"  para rezar é hilária), prendendo a atenção do expectador médio. Como cinema, merece nota 5,0.

Agora meus comentários no ponto de vista religioso.

É visívelmente claro o que está por trás deste filme: difundir, de forma sutil a doutrina espírita e atacar o catolicismo. Cenas como as das procissões da padroeira da cidade e o padre intolerante interpretado por Cássio Cabus Mendes são disfarçadas com humor, mas acabam sendo ofensivas aos praticantes da fé católica. Particulamente, me sentir tão ridicularizado em alguns destes momentos, que pensei em várias vezes me retirar do cinema. Mas permaneci porque queria ver até aonde aquela palhaçada sem graça iria. Ainda bem que foram prudentes e pararam de atacar antes de entortar o caldo, e vim a torna as reais intenções.

A ideia mais perigosa difundida no filme, é que Espiritismo e Catolicismo é praticamente a mesma coisa. Evidente que os inteligentes roteiristas não falam isso abertamente, mas colocam muitos elementos da nossa fé católica em momentos espíritas, como as várias Ave Maria rezadas no filme.  Nunca fui a uma sessão espírita e não sei se elementos como esta oração católica encontra-se também no espiritismo. Mesmo assim, no filme foram exaustivamente difundidas essas ideias. Sem falar no padre bonzinho, interpretado por Pedro Paulo Rangel, que muitas vezes, aparentava ser um simpatizante do espiritismo.

Como comentei acima, Chico Xavier é transposto para tela como o coitadinho, injustiçado. Com certeza deve ter sido muito perseguido, até porque naquela época a intolerância religiosa era pior que hoje. Mas percebi um certo exagero no filme, como se os roteiristas quissessem transformá-lo em um santo, e o mais grave, num novo Jesus. Pode até ser que essa não tinha sido intenção, mas é o que aparenta.

Chico Xavier como pessoa foi especial. Teve muitos sofrimentos no decorrer de sua vida, mas buscou forças em sua fé. Viveu plenamente o que acreditava e não tinha malícia em seus atos. Tudo que ele fez foi para o bem das pessoas. É inegável o ser humano abençoado que ele foi, até por conta da sua ingenuidade e pureza de coração. Temos que reconhecer isso.  Não devemos cair no discurso farisáico que só existem pessoas boas e santas em nossa Igreja. Chico Xavier, Gandhi, Martin Luther King, Nelson Mandela são exemplos de pessoas que não eram católicas (apenas os dois últimos são cristãos protestantes) mas fizeram diferença no mundo, levando, ao seu modo valores idênticos aos do Evangelho. Evidente que estas pessoas precisam ser conhecidas e admiradas por nós. Repito: as pessoas, não a fé que eles professavam. É necessário o discernimento para fazemos esta distinção, separarmos o joio do trigo.

A vivência da fé em que Chico Xavier acreditava é admirável e serve até de exemplo para vivermos também a nossa fé com o mesmo empenho. A pureza e ingenuidade dele fez com que vivesse radicalmente a doutrina da sua crença. Mas esta crença, a doutrina espírita, jamais pode ser admirada e copiada por nenhum cristão, independente que seja católico ou protestante. A verdade é esta: por trás de tanta bondade, elementos da religião católica e versículos soltos da Bíblia, principalmente do Evangelho de São João, algo que seduz os cristãos desavisados, encontra-se uma doutrina filosófica que nega cerca de 40 pontos de vista da fé cristã. E se nega a Cristo, não podemos ficar em cima do muro, mas também negamos  a tudo aquilo que rejeita o nosso Deus amado e a Sua Palavra para nós.


Rick Pinheiro.
Teologo, professor de Ensino Religioso, acadêmico de Direito e coordenador da Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Maceió.

Um comentário:

  1. Exato. Falou pouco, mas falou tudo.

    Obrigado pelo comentário!!!

    Abraços!!!! Fik c Deus!!!!

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