quarta-feira, 15 de setembro de 2010

CINÉFILOS DE MACEIÓ EM LUTO!

No ano que tivemos a grata alegria de receber mais cinco salas de cinema em nossa Maceió, temos a grande tristeza do fechamento das duas salas do Cine Farol, no último dia 31 de Agosto.

Se ao menos o Grupo Severiano Ribeiro já tivesse pinaugurar as salas do Knoplex no Shoping Maceió seria compreensível. Mas o problema é que as obras estão a passo de tartaruga manca e está mais fácil o Tony Clóvis ser eleito Governador de Alagoas e o Eymael ser Presidente da República do que o Grupo Severiano Ribeiro inaugurar daqui a um ano as novas salas.

Mais uma nota zero para o Grupo Severiano Ribeiro que mostra total desrespeito pelo público alagoano. Fez um maior bafafá, brigando pelas novas salas no Shoping Maceió, que já estava fechando negociação com outra rede de cinema, e após vencer a briga, além de não cumprir o que fez tanta questão e nos presentear com as novas salas, ainda por cima, fecha as portas dos dois únicos cinemas do Grupo, e ouso dizer de Maceió, a exibir filmes no idioma original.

Fica na memória os momentos especiais que passei todos esses anos nas salas 1 e 2 do Cine Farol, que eu passo a partilhar alguns que me vem agora na memória. É a minha humilde homenagem aos funcionários e a estas duas salas de cinema que tanto vai fazer falta não somente para mim, mas para todos os alagoanos e visitantes amantes da sétima arte.

ALGUNS "CAUSOS" DO CINE FAROL

* O RISCO DE APANHAR SE CONTAR O FINAL DO FILME:

De tempos em tempos Hollywood lança vários filmes arrasa-quarteirões, ou seja, produções caríssimas, repletas de efeitos especiais, com um roteiro nem sempre bom. Na minha adolescência, eu e um amigo meu, o Rodrigo, conhecido como Periga (abreviatura de Perigozo - com "z" mesmo e não me perguntem porque. rssss...), fomos com uma das vítimas dele e uma amiga dela assistir o arrassa-quarteirão Armageddon, filme estrelado por Bruce Wills, pelos péssimos Ben Afleck e Liv Tyler, e com um elenco bom de coadjuvante que tinha Billy Bob Thorton e Michael Clarke Duncan, o "coffee" do filme À Espera do Milagre.

Vou poupá-los de contar o enredo do filme, pois a esta altura do campeonato, todo mundo já assistiu este filme exibido milhares de vezes na Tela de Sucesso, Cine Espertacular e Sessão das Dez do SBT, e mais recentemente na Temperatura Máxima e Domingo Maior da Globo.  Bem, como o título deste "causo" diz a presepada é justamente sobre o final do filme. Portanto, se existe alguém que incrivelmente ainda não assistiu este filme pare de ler agora mesmo e pule deste paragráfo para o outro causo.

Bem, quem tá lendo agora sabe muito bem que o filme é ótimo, mas faz a merda do personagem central intepretado por Bruce Wills morrer no final para salvar a terra do terrível meteoro que iria destruir nosso lindo planeta. Evidente que tanto eu, como o Periga e as meninas, no auge da nossa adolescência onde os heróis tem sempre que ser dar bem, nos fustramos pelo John Maclane, digo, pelo personagem de Wills ter morrido.

Ao sairmos do cinema, nos deparamos com a imensa fila que fazia um grande círculo no 1º andar do mini-shoping Farol. Periga e eu não perdemos tempo e começamos a falar alto, como se não tivessemos intenção nenhuma, contando o final do filme, dizendo: "Que merda! O Bruce Wills morre no final!" Assim como nós queríamos aparecer para as nossas companhias, um "corajoso" bem mais velho que a gente queria aparecer para a sua dignissima namorada e ficou irritadinho querendo avançar na gente, sendo "acalmado" pela tal namorada. Evidente que o carinha só queria mesmo aparecer, pois se quissesse mesmo bater na gente, não ia ser a magrela da namorada dele que iria segurar. A cena é típica dos pastelões dos Trapalhões, e com certeza se ela o soltasse, ele iria pegar a mão dela de novo e ia dizer: "Me segure!".

Anos depois, no mesmo cinema, eu e o Periga, com outras companheiras é claro, fizemos o mesmo com outro filme do Bruce Wills: O Sexto Sentido. Mas sem o mesmo pique e mais contidos que naquele sábado que contamos que Bruce Wills morria salvando a terra do Armageddon.

* QUEM FALA O QUE QUER... OUVE O QUE NÃO QUER: O DIA QUE A HUMILDADE VENCEU A PREPOTÊNCIA.

Na eterna busca do ser humano pela pessoa certa, sempre acontece de sair com alguém que conhecemos na internet. Mesmo que tecle um bocado, sair com alguém que só conhecemos no mundo virtual não deixa de ser um encontro às escuras da era cibernética. Alguns anos atrás conheci uma jovem legal, que assim como eu, é estudante de Direito. Conversa vai, conversa vem, "pintou um clima" e resolvemos sair pela primeira vez. Como apaixonado por cinema que eu sou não poderia marcar outro lugar que não fosse o cinema.

Como sempre peço para a dama escolher. Como ela mora perto do Shoping Farol,  fomos a sala 1 daquele centro comercial, assistir a comédia romântica Antes só do que mal casado, estrelada por Ben Stiller. Noite de sábado, última sessão e sem fila nenhuma. A jovem tira da sua bolsa o cartão de busão, a fim de obtemos o desconto de estudante. O problema é que para nós universitários a carteira de busão não vale para meia-entrada, que só será adquirida mediante apresentação de uma carteira específica ou de um comprovante de matrícula acompanhado da identidade. Faço questão de colocar na íntegra o diálogo.

- Bilheteira (tom calmo): Moça, essa carteira não vale! Por gentileza, mostre-me o seu comprovante de matrícula.
- Doida (alterando a voz): O quê? Como assim não vale? Não está escrito aí que eu sou estudante, minha filha. Por quê não vale?

Nesta hora, eu já tinha pago o ingresso e só queria sair. Pô, eu estava pagando, não precisa tal escandâlo. Mas teve mais. Vejam:

- Bilheteira (tom calmo): Senhora, eu sei. Mas a regra é que cartão de ônibus.
- Doida (mais alterada): Isso é um absurdo. Eu exijo meus direitos. Palhaçada da porra e blá, blá, blá...

Nesta hora eu olho para trás e vejo uma fila imensa olhando o barraco. Juro que cheguei a pedi a Deus para que acontecesse um terremoto e só abrisse um buraco onde eu estava e cair nele, de tão envergonhado que eu estava. Como se não bastasse, a doida inventa de falar a seguinte merda.

- Doida (aos berros): Isso é um absurdo! Eu exijo os meus direitos. Vai me dar meia-entrada sim. E sabe porque? EU SOU ESTUDANTE DE DIREITO.

Sabiamente e numa calma de um monge, a bilheteira responde: E EU COM ISSO?

Diante de tal resposta, a doida caiu em si, e numa calma típica de uma cordeirinha, diz a merda final: É  porque estudante de Direito tem mais consciência dos seus direitos.

Juro para vocês meus caros internautas, a vontade que deu, foi largar a doida lá e pedir aquela  bilheteira em casamento. Cheguei até pensar em comprar rosas e levar para ela no dia seguinte, mas a timidez me impediu de fazer tal ato de loucura.

Sobre eu e a doida: "ficamos" àquela noite, manguei da cara dela por centenas de vezes durante quase um mês e depois de um mês, como uma espécie de desculpas da parte dela, fomos assistir no mesmo cinema Meu nome não é Jonhny, onde ela saiu fustrada pois simplesmente só assistirmos o filme.

De fato o título do primeiro filme que asssistimos é profético no nosso caso: Antes só que mal casado. Ainda bem que não cheguei sequer namorar, pois no primeiro encontro já mostrou que nunca daríamos sério, pois quem me conhece sabe que eu sou simples e detestos prepotência.

* ATAQUE DE RISO POR CAUSA DE UM PORCO


Quem me conhece sabe que eu sou fã do seriado Os Simpsons. E quando um das tentativas de namoro estava ansiosa para assistir a primeira inclusão cinematográfica da família mais louca da televisão foi um prato cheio para mim. Confeso que não lembro desta jovem, e peço desculpas a vocês, e principalmente a ela caso um dia venha a ler esta postagem, pela minha péssima memória. Duas coisas eu sei: 1) Não ficamos, muito menos namoramos pois eu lembraria; 2) Que ela era uma pessoa simples e controlada, ao contrário da doida do "causo" acima.
Tudo que eu lembro é do mico que eu passei de rir do começo ao fim principalmente das presepadas do Homer Simpson, que antes do filme era para mim um coadjuvante do personagem que até então eu achava mais engraçado: Bart Simpson. Mas tive um ataque de riso de mais de 15 minutos com a cena boba do Porco-Aranha e logo após do Harry Porco. As lágrimas desceram de tanto eu rir, que até a menina perguntou se eu estava passando bem. Vai ver que foi por isso que saimos mais, pois ela deve ter me achado um louco.

Na semana seguinte, fui com o pessoal do meu antigo grupo assistir de novo Os Simpsons, só que no antigo Cine Iguatemi. E acreditem meus irmãos, tive o mesmo ataque de riso. Pense num cara doido que eu sou. rssss...

* O REENCONTRO COM UM ÍDOLO DA MINHA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

Da mesma forma que na minha infância e adolescência o saudoso Cinema São Luiz me proporcionou a emoção de assistir os filmes da época de ouro do meu ator favorito Sylvester Stallone, providencialmente o Cine Farol proporcionou a mesma emoção mo ressurgimento dele nas telonas. Seus três últimos filmes Rocky Balboa, Rambo IV e Os Mercenários tive o prazer de assistir nas telas do Cine Farol I e II. O último aliás, fechou com chave de ouro toda uma história de filmes que eu assistir nestas salas que já está me deixando com saudades.

* A CHANCE DE UMA LONGA E ALEGRE DESPEDIDA.

Deus é perfeito e sabe o que faz. Na sua infinita bondade, me concedeu a graça de aos poucos ir me despedindo das salas do Cine Farol, onde vivi boa parte da minha vida. Providencialmente este ano tive a graça de assistir vários filmes como Homem de Ferro 2, Salt, Eclipse, A Origem, Os Mercenários, entre outros. Todos, com exceção do modinha Eclipse, nos seus idiomas originais, num som perfeito, um dos melhores de Maceió. E ainda tive a bênção de partilhar com vocês os últimos momentos, através dos meus comentários sobre cada filme. Um bônus que Deus me proporcionou de registrar esta despedida.
Nos meados de Agosto fiquei sabendo que aquele seria o último mês de funcionamento do Cine Farol. O coração apertou e pude curtir os últimos instantes assistindo excelentes filmes, saboreando uma deliciosa pipoca, com uma coca-cola gelada. Cada semana que eu ia era uma despedida. Olhava para cada detalhe, a melancolia dos dedicados funcionários que provavelmente estão desempregados  sabe Deus até quando. Quando era criança e adolescente muitos cinemas fecharam aqui em Maceió. O fechamento do Cine Farol, juntamente com o do Cine São Luiz são os que marcaram profundamento.

Alguém que está lendo esta postagem pode está achando que é frescura da minha parte, que estou fazendo um melodrama mexicano. Mas aqueles que amam a arte do cinema sabem que quando um sala se fecha, uma parte da nossa vida permanece lá. Afinal, foram momentos de nossos vidas, minutos que vivenciamos no escurinho de cada uma daquelas duas salas. Sentimentos variados a cada sessão, a cada filme. Alguns bons, outros nem tanto. Alguns engraçados, outros melancólicos pelo tédio de ir sozinho. Mas com o acender das luzes da última sessão fica mesmo é a saudade.

Muito obrigado Cine Farol I e II por fazer da sua casa a nossa casa!!!! Muito obrigado a todos os funcionários que passaram por eles e se dedicaram ao máximo para nos acolher a todos nós, meros apaixonados pela sétima arte. Que Deus recompense milhares de vezes mais, tudo o que cada de vocês fizeram por nós.

A vida continua, encerrou-se apenas um círculo. E que venham URGENTEMENTE novas salas de cinema para a nossa querida Maceió. Os cinéfilos como eu, mesmo enlutados, estão dispostos a não deixar o show do cinema jamais acabar.


Rick Pinheiro.
Cinéfilo em luto pelo fechamento do Cine Farol.

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