Há oito dias recebemos a triste notícia que há anos, em especial nos últimos meses, era foco de boatos: a morte do genial Roberto Gómez Bolaños (21/02/1929 -28/11/2014). Ator, escritor, comediante, dramaturgo, compositor, diretor e produtor, Chespirito (pequeno Shakespeare) como era conhecido deixa-nos um legado que apenas os grandes gênios da humanidade poderia nos presentear. Afinal, mais do que divertir crianças de várias gerações, principalmente como o figuraça super-herói atrapalhado latino-americano Chapolin e como o garoto órfão abandonado Chaves, Chespirito fazia uma inteligentíssima crítica social a situação precária dos mais humildes, não somente do seu país, mas, de toda América Latina e ainda homenagens inesquecíveis a grandes ícones mundiais como Chaplin, O Gordo e o Magro, o próprio Shakespeare, entre tanto outros. Particularmente, sou apaixonadíssimo pela obra de Chespirito, desde dos primeiros episódios que assistir de Chaves e Chapolin, com muita estática, quando o vizinho ligava a parabólica e sintonizava no SBT.
Por ter feito minha vida mais feliz (não somente a infância já que até hoje caio nas gargalhadas com as mesmas piadas de episódios reprisados infinitas vezes), em forma de agradecimento, presto essa pequena e simples homenagem ao gênio, fazendo um Top 10. Diga-se de passagem um dos mais fáceis e agradáveis que eu fiz, pois, automaticamente vieram em minha memória esses momentos inesquecíveis, e ainda ri sozinho lembrando destes. Único trabalho que tive foi pesquisar alguns dados técnicos e curiosos sobre os episódios, afinal, ainda não sou um chavesmaníaco top. Enfim, antes que Seu Barriga apareça para cobrar o aluguel, vamos a nossa lista.
10. Encontro histórico.
Começamos nossa lista abrindo uma exceção, incluindo um episódio de Chapolin. Em Ser pequeno tem suas vantagens (Chapolin visita a vila), o órfão Chaves, cansado de ver Seu Madruga levando uma surra de Dona Florinda, invoca o atrapalhado super-herói para tentar resolver. O efeito especial é para lá de tosco, mas o episódio por si só é inesquecível. Não contava com a astúcia de Chespirito!
9. "Teria melhor ter ido ver o filme do Pelé!".
Um dos clássico dos clássicos de Chaves, daqueles que até os não fanáticos se lembram. No episódio Vamos ao cinema, a turma da Vila vai ao cinema e Chaves se revela um espectador pentelhaço ao reclamar o tempo todo, com a frase clássica inesquecível "Teria sido melhor ter ido ver o filme do Pelé!". Resultado: a sessão de cinema mais tumultuada e engraçada de todos os tempos. Curiosamente, no original, o filme citado é o mexicano El Chanfle, estrelado por Chespirito e com todo o elenco do seriado e o Raúl Padilla (17/06/1918 - 03/02/1994), que alguns meses depois entrou no seriado como o preguiçoso carteiro Jaiminho.
8. O amor está no ar.
A vila onde a turma do Chaves reside não é lá um exemplo de lugar pacífico, sem confusões. Imagina quando chega vizinha nova bonitona, com uma sobrinha idem, arrasando corações e provocando ciumeira na parte feminina. No episódio As Novas Vizinhas, Seu Madruga se apaixona por Glória, enquanto que Chaves e Quico arriam os quatro pneus e o estrepe pela lindíssima Paty, sobrinha da moça. Os corações toscos que aparecem no apaixonado Chaves é o ponto alto e inesquecível deste episódio.
7. Hector Bonilla.
Atores de novela mexicana têm a fama de serem canastrões. Se isso for verdade, Hector Bonilla é o maior deles. Pelos menos é o que demonstrou no inesquecível episódio Um Astro Cai na Vila. As caras e bocas do ator, que interpreta (?) a si mesmo e quando fala os bordões do Chavinho são os pontos altos deste hilário episódio. Se os homens da vila tiveram seu momento com Glória e Paty, as mulheres também tiveram seu momento de fogo com a chegada acidental do galã canastrão na vila.
6. Seu Madruga, filósofo e conselheiro amoroso.
Indiscutivelmente, Seu Madruga é o melhor personagem criado por Bolaños, que admitiu em uma de suas últimas entrevistas ao apresentador Ratinho, que é o seu favorito. Além do fato de ter sido criado pelo genial Chespirito, Seu Madruga era interpretado pelo saudoso genial Ramón Valdés (02/09/1923 - 09/08/1988), simplesmente um dos melhores humoristas da América Latina. Seu inesquecível personagem ícone tinha tudo para ser brasileiro, afinal de contas, é um pai solteiro, que se vira nos trinta para cuidar de sua filha, pulando de galho em galho sem nenhum vínculo empregatício (sapateiro, boxeador, homem do saco, pintor, eletricista, vendedor de churros, foi só alguns dos bicos que ele fez), e ainda dar um calote de eternos quatorze meses de aluguel no dono da vila, Seu Barriga. Mas, o personagem também mostrou outro lado, o de grande pensador da humanidade.
No episódio Seu Madruga Sapateiro, ao aconselhar Chaves, solta o clássico pensamento: "A vingança nunca é plena, mata a alma e envenena." Nem Sócrates foi tão profundo como o mais brasileiro dos mexicanos. Mas, tem mais. Além de ser um grande pensador, o cara é também um conselheiro amoroso, décadas antes de Will Smith e seu Hitch. No episódio O Professor Apaixonado, ele é procurado pelo Professor Girafales para pedir conselhos amorosos. A cara de Seu Madruga ao achar que o professor iria se declarar para ele e as do Chaves e o Quico acham que está rolando um romance entre Seu Madruga e o mestre linguiça..., digo Professor Girafales (Foi sem querer querendo) são hilárias. Em outro episódio, A briga dos pombinhos, Seu Madruga mais uma vez é procurado pelo egocêntrico professor, que lhe pede ajuda para reconquistar Dona Florinda. Hitch perto de Seu Madruga não sabe porra nenhuma na arte da conquista.
5. Chaves no banco dos réus.
Filmes e seriados de tribunais fazem grande sucesso entre o público. Chespirito não perdeu tempo e tratou logo de fazer uma inteligentíssima paródia, no episódio Era Uma Vez, Um Gato..., colocando Chaves para ser julgado por assassinar o gato do julgamento, presidido pelo figuraça egocêntrico Professor Girafales e tendo o Seu Madruga como advogado de defesa. O micro-depoimento do acusado que acaba inocentando-o, é inesquecível, hilário, provocando gargalhadas mesmo sendo reprisado inúmeras vezes.
4. "Se você é jovem ainda!" e Chaves: o poeta.
Temos mais um empate entre dois momentos inesquecíveis do seriado Chaves. No episódio Uma Aula de Canto, a garotada tem seu momento Glee (infinitamente superior a esse lixo estadunidense) e solta a voz. Destaque para a inesquecível canção filosófica "Se você é jovem ainda!", que conta com a micro-participação de outro personagem memorável interpretado por Bolaños, o figuraça Dr. Chapatin. A dancinha coreografada dos garotos com Seu Madruga é o ponto alto do número musical. Um momento tão memorável que até perdoamos as leves fugidas de ritmo e falta de rimas da dublagem brasileira.
E como não lembrar o clássico e inesquecível episódio A Grande Festa, onde Seu Madruga organiza o Festival da Boa Vizinhança da vila? Uma galera tão desunida, lógico que só podia dar muita confusão. O ponto alto é quando Chaves sobe ao palco e declama o clássico e profundo poema O Cão Arrependido. Momento hilário e inesquecível que até mixagem ganhou na web.
3. Mestre Madruga.
No seriado, Seu Madruga foi de tudo um pouco, o que o torna o mais brasileiro dos mexicanos. O ponto alto do mil e uma utilidades da vila foi no inesquecível episódio O Primeiro Dia de Aula, onde após corajosamente fazer um comentário negativo sobre o Quico justamente para a antipática e metida a durona Dona Florinda, Seu Madruga se refugia na escola. De aluno, Seu Madruga passa a professor, com um didática que nem o mais genial dos pedagogos poderia imaginar. Bronze merecedíssimo no nosso Top 10.
2. "Seu Madruga, vão matar o senhor".
Uma sucessão de perguntas sobre se está se sentindo bem é para deixar qualquer um de nós desconcentrado. Imagina quando seu maior desafeto, no caso do figuraça Seu Madruga, a velha coroca Dona Florinda, faz essa pergunta. O resultado é uma deprê hilária, que faz o cara esquecer a data do seu próprio aniversário. Esse é o enredo do engraçadíssimo episódio A Morte do Seu Madruga, um dos melhores do seriado, que tem como ponto alto, a clássica cena onde Seu Madruga se olha no espelho e ver uma caveira. Particularmente, além do inegável brilho do saudoso mestre Rámon Valdés, Chespirito também não fica atrás com as confusões de entendimento de Chaves, que acredita que existe um complô para matar o Seu Madruga, e, literalmente falando, acaba com a festa surpresa dele, distribuindo vassourada em todo mundo. Choro de rir só de lembrar deste episódio hilário.
1. Turma do Chaves em Acapulco.
Não tem como negar: nove entre dez fãs do Chaves vão eleger Vamos a Acapulco o melhor episódio do seriado. Indiscutivelmente este que, por ironia do destino, é o último com todo elenco original do seriado, é melhor em tudo, com logo de cara, trazendo o Professor Girafales soltando uma clássica frase que demonstra o ápice do seu egocentrismo, passando pela saída da mesmice do cenário, os trajes de banho toscos, os homens da vila pirando com as gostosonas, o afogamento do Quico, entre outros momentos ímpares. Mais o ápice, sem sombra de dúvida, é a sequência final, onde Chaves solta o gogó cantando a melancólica e brega Boa noite, vizinhança, que curiosamente, Chespirito compôs em homenagem a Carlos Villagrán, que deixava o programa para fazer um solo na Venezuela. Uma pena que, anos depois, os dois se desentenderam e brigaram na justiça pelos direitos do personagem, não fazendo as pazes até a morte de Chespirito. Deixando de lado este triste detalhe, o fato é que Vamos a Acapulco é hilário, nostálgico e emocionante, disparado o melhor e mais divertido episódio do seriado.
Rick Pinheiro.
Cinéfilo alagoano e enlutado com a partida do genial Chespirito.
Simplesmente o melhor. A turma do Chaves e o Chapolin fizeram parte de toda minha infância e ainda é único motivo de eu ainda assistir o SBT.Não existem palavras para definir esse cara.
ResponderExcluirCom certeza, Maykon! Nem todas as postagens do blog são suficientes para definir Chespirito. Como todo gênio, faltam palavras para definirmos. Só nos resta agradecer a Deus por ter nos presenteado com pessoas tão ímpares e especiais como ele.
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